Amely Fauser atua como coordenadora de projetos do Instituto H&H Fauser. A Sede do Instituto fica em Paraibúna (SP) e suas ações são focadas nas Reservas da Biosfera da Mata Atlântica e do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
Nesta entrevista, a Amely conta sobre os desafios de quem gerencia um projeto que visa apoiar a gestão de negócios de impacto. No Instituto, um dos projetos que realizam é de Turismo Sustentável, quem em 2020, viveu grandes transformações.
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais. Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo, para nossa conversa de hoje na jornada PQPS! Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais, eu sou Márcio Pires falando pela rede Tekoha e esta conversa é parte de uma série de papos com quem atua na gestão de projetos socioambientais no Brasil neste ano de 2020. Nós mergulhamos nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental e a entrevistada de hoje é Amely Fauser.
Nossa conversa de hoje é sobre o Instituto H&H Fauser, que foi fundado em 2006 e que busca promover o desenvolvimento sustentável, a conservação do meio ambiente da cultura e Patrimônio Histórico Artístico e Cultural. A sede do Instituto está localizada em Paraibuna, município do estado de São Paulo e o foco prioritário das ações são os municípios que integram as reservas da biosfera da Mata Atlântica e do cinturão verde da cidade aqui em São Paulo. O Instituto trabalha com capacitação de jovens para atuar como monitores ambientais e contribui para a realização de turismo sustentável, por meio da estruturação de destinos turísticos. A gente está aqui, como eu falei com a Amely Fauser que atua como coordenadora de projetos do Instituto.
Tudo bom Amely? É um prazer conversar com você hoje.
Amely
Tudo bom, boa tarde a todos.
Márcio
Maravilha. Amely conta para gente um pouquinho sobre como que esse projeto de turismo sustentável do instituto foi concebido.
Amely
Ele surgiu ao longo do trabalho, porque a nossa capacitação para jovens é um programa que é da reserva da biosfera do cinturão verde da cidade de São Paulo. Entre as oficinas tem uma de turismo sustentável e uma de iniciação cientifica. Então na oficina da iniciação cientifica alguns jovens fizeram uma formatação de alguns destinos turísticos junto com a nossa turismóloga e aos poucos também eles próprios foram ajudando a fazer o planejamento de citytour pro patrimônio histórico e outros empreendimentos rurais. Nas turmas do programa de jovens que a gente teve um financiamento da Petrobras, a gente incluiu um conceito de empreendimento escola como ideia para gerar renda e oportunidade de trabalho para os jovens e financiar as oficinas do programa, que além do turismo sustentável envolvem Agroindustrial artesanal e produção e manejo agroflorestal. Neste projeto foi contratada uma consultoria para que todas as oficinas tivessem seu empreendimento escola associado, mas o único que se materializou foi do turismo sustentável. E o grande impulso se deu quase por acaso, já que a gente fazia monitoria de um produto turístico local de frutas nativas, que procurou o SESC Consolação. Dessa primeira visita do SESC para um roteiro elaborado pela equipe, é que nasceu a parceria.
Márcio
Entendi. Me fala um pouquinho sobre o triângulo de gestão do projeto que é um conceito que a gente sempre conversa em nossos encontros aqui na jornada. Triângulo de gestão do projeto, Quais eram as principais entregas esperadas, o orçamento de vocês e qual que era o prazo?
Amely
As principais entregas na época da consultoria, era realizar pelo menos 12 monitorias por mês, que segundo plano de negócios elaborado na época garantiria um salário para o coordenador da oficina e um aprendiz, além da contratação dos monitores. Com relação ao orçamento, a consultoria em 2013 custou em torno de r$ 20.000, e o restante dos custos foi diluído no custo da própria oficina, que a gente calculou mais a questão da mão de obra que foi de R$ 49.000. Tinha outros custos de informação e de alimentação e transporte de jovens, mas a gente não incluiu nesse orçamento. A ideia era ser um prazo contínuo, que financiasse a oficina de capacitação pro jovens e paralelamente trabalhasse na formatação de novos produtos turísticos em Paraibuna e que aumentasse o turismo local fora das festas. Porque o turismo de Paraibuna está muito pautado nas grandes festas que são realizadas lá durante o ano.
Márcio
E a gente está gravando nossa conversa em dezembro de 2020 que é um ano em que a pandemia interrompeu o projeto de vocês. E antes da pandemia o quê que vocês conseguiram colocar em prática?
Amely
Então com a parceria do SESC a gente recebia grupos pelo menos duas vezes ao mês, sendo que nas férias o SESC tinha um programa de férias para os pais e crianças, então normalmente nas férias eram mais grupos que chegavam. Com o recurso proveniente dessa nossa atividade, a gente pagou nos últimos cinco anos sem contar 2020 a estrutura básica de funcionamento do Instituto e todo o trabalho de políticas públicas junto aos conselhos municipais ou conselhos regionais de Paraibuna e região.
Márcio
E desconsiderando a pandemia, qual foi o principal desafio?
Amely
Acho que o principal desafio para gente foi estrutura-lo com o negócio, incluindo um plano de negócios, marketing. Existe uma questão de insegurança jurídica até onde as OCIPEs podem fazer turismo receptivo. Além disso eu acho que a gente enquanto a equipe não interiorizou a prestação de serviços. Como o negócio poderia ser um caminho para a sustentabilidade da organização. E na verdade em função disso a gente teve uma outra dificuldade, que foi de manter os jovens como monitores, já que o número de monitorias realizadas não garantiu uma renda suficiente para os mesmos, então assim a gente no final trabalhou só com jovens que tinham isso como “bico” ou que estavam desempregados, porque a quantidade de monitorias não garantia nem um salário mínimo para eles. E em Paraibuna a característica é que os jovens são pressionados muito cedo a irem trabalhar.
Márcio
Lembrando que este podcast faz parte das jornadas PQPs que hoje recebe a Amely Fauser coordenadora de projetos do Instituto H&H Fauser para falar do trabalho do instituto, e com isso a gente aproveita para falar sobre conselho de gestão de projetos, como o ciclo de vida, que inclui vários pontos importantes, como o planejamento da relação com as partes interessadas. E daí eu volto para o trabalho do H&H Fauser. O projeto acontecia em parceria com o SESC São Paulo você disse com o SESC consolação. Como é que ficou hoje essa parceria? Vocês tinham um contrato assinado, precisaram rever o contrato, foi um acordo verbal? Como que rolou com o SESC?
Amely
Na verdade não tinha um contrato assinado. O que a gente tinha é que os roteiros constavam do catálogo de turismo social do SESC e com alguns SESCs regionais existiam contrato de prestação de serviço, mas pelo que eu sei é assim na verdade não se fez nada. Acho que muito em função de que todo mundo no começo esperava que a pandemia fosse passar rápido. A gente esperava ali uns 3 meses para questão se resolver, eu acho que a coisa ficou meio no limbo, até porque a gente estava envolvido com outro projeto de grande porte.
Márcio
Para quem tem a vivência profissional como a sua, que colocou para gente que você veio a gestão pública. Qual que é o principal desafio que você sente quando você está tratando como projeto que visa apoiar a gestão dos negócios de impacto?
Amely
Para mim uma das grandes questões do funcionalismo público de cidade grande, quando você não está na Secretaria de Finanças ou na parte administrativa, é que você não participa de elaboração de orçamento e planejamento. E em geral a gente não tem a mínima noção dos custos envolvidos nos diferentes projetos. E a gente acaba se habituando também a colocar recurso do próprio bolso para fazer um trabalho bom, porque os recursos da prefeitura eles são muito intermitentes ou às vezes até não acontecem. Apesar que a gente está falando em São Paulo. Para mim o maior desafio é sair desse mindset do terceiro setor e do funcionalismo público, que são bastante parecidos na verdade pro mindset mesmo de gestão de negócio.
Márcio
Até porque a gente estava falando muito sobre gestão de projetos, mas você tem também a operação. O projeto é algo com um começo meio e fim, a operação é o que vai se prolongando. Então tem muito do que a gente está conversando aqui, mas também conversa com a questão da operação mesmo, acho que é isso que você está levantando também que é um ponto bacana.
Amely
Mas eu acho que é um ponto mesmo de como você olha para a questão. Da onde você tá olhando, acho que é uma coisa bem importante para se pensar. Nesse período entre a finalização do último projeto e agora, eu tenho me dedicado um pouco, tanto na questão dos negócios de impacto como a questão do investimento social privado. Então eu vejo que hoje você tem várias possibilidades de financiamento ou de forma de atuação muito diferentes, por exemplo do que a gente conhece do poder público.
Márcio
Isso é um gancho muito bacana para a gente ir conversando nos próximos materiais e nos encontros da jornada. Amely a gente costuma terminar essas conversas que a gente tem aqui nos podcasts invertendo os papéis, a gente termina com uma pergunta que você quem faz para nossa audiência. Fala um desafio do seu trabalho que você está sentindo atualmente, que você gostaria que a nossa audiência pudesse te responder. O quê que poderia ser uma descoberta a respeito dos seus desafios que você pudesse passar para gente.
Amely
– Eu pensei bastante a respeito, e assim apesar da gente ter turismólogos na equipe e até turismólogos que já tiveram agência de turismo, eu acho que a minha grande pergunta é: A onde estamos errando, que o negócio não desmancha? A gente tem um fator que a gente destaca que é o nosso custo, em função do número de monitores de um para cada 10 turistas, então por que que a parceria com SESC vinga, porque o SESC ele assumir parte do custo do passeio para os associados deles. Então na verdade o turista mesmo ele não vai pagar o pacote como um todo. E a outra questão é que em função, acho que a gente ser OSCIP e o tipo de relação que a gente estabelece com os produtos e serviços de alimentação e os produtos turísticos, a gente não tem como realizar algumas práticas correntes na área do Turismo por exemplo a porcentagem para os guias e motoristas, gorjetas e outras questões. Então na verdade o que a gente precisaria é montar um modelo diferenciado mesmo do que se tem normalmente nesse turismo mais convencional. Acho que para mim essa é uma grande questão.
Márcio
Maravilha. Amely “brigadão” por contar para gente sobre o instituto H&H Fauser, a gente acredita muito aqui na jornada que é super importante para o campo socioambiental como todo esse compartilhamento de práticas e de desafios, a jornada PQPS fica mais rica com registros como esses que você fez hoje.
Amely
Sem dúvida, quem agradece sou eu, porque de qualquer forma sempre quando a gente fica em frente algumas perguntas a serem respondidas. Eu acho que a gente aprende mais um pedacinho e você tem que fazer todo uma reflexão sobre isso.
Márcio
Verdade. E é isso aí a gente fica por aqui, mas as jornadas PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, continua nos nossos outros podcast deste ciclo Logo mais tem mais. Até.
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.