Entrevista realizada com a Karliane Chaves e Carolina Scheidecker do ISES – Instituto de Socioeconomia Solidária. O ISES tem como parte da sua missão realizar projetos para ajudar a construir um mundo sem pobreza onde todos desenvolvam seu potencial.
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais. Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo para a nossa conversa de hoje na jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais. Eu sou o Márcio Pires, falando pela Rede Tekoha, e esta conversa é parte de uma série de papos com quem atua na gestão de projetos socioambientais no Brasil neste ano tão desafiador que é 2020.
Vamos juntos mais uma vez, mergulhar nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental, E hoje nós vamos conversar com uma dupla, a Karliane Chaves e Carolina Bernardes do Instituto de socioeconomia solidaria, o ISES, que é uma organização que trabalha projetos e programas de geração de valor compartilhado entre sociedade, governo e empresas e o ISES tem como missão fortalecer pessoas, organizações e comunidades por meio do desenho e da execução de soluções inovadoras e sustentáveis para ajudar a construir um mundo sem pobreza, onde todos desenvolvam seu potencial. E para gente entender o que que tudo isso significa na prática do dia a dia a Karliane e a Carolina vão explicar mais sobre o trabalho do ISES a partir de agora.
Karliane e Carol é um prazer conversar com vocês, tudo bem?
Carol
Tudo bem, o prazer é nosso.
Márcio
Para começar trazendo para a nossa roda, na pratica eu queria que você explicasse que tipo de cadeias produtivas vocês apoiam por meio do ISES, e como é esse apoio ou fortalecimento?
Carol
A gente apoia uma diversidade de cadeias produtivas e uma diversidade de atores sociais. Então a gente tem negócios produtivos na área agropecuária, a gente também apoia padarias comunitárias, negócios de beneficiamento do extrativismo de produtos do extrativismo e alimentos, cooperativa de reciclagem e até temos algumas ações pontuais apoiando até governos municipais e outras organizações. Realmente é um trabalho bem diverso.
Márcio
Qual que é o perfil? Quem que são os empreendedores desses negócios?
Karliane
Nós atuamos com um grupo bastante diferenciados, vários perfis, mas entre eles nós temos grupos liderados por mulheres, outros que são mais diversos, que envolvem vários públicos como jovens, mesmo idosos e a gente atua com pescadores, agricultores, catadores. Então são grupos bem diferenciados aí conforme projeto.
Carol
Inclusive às vezes nem são grupos produtivos ainda, então a gente também tem esse trabalho de pré encubação de grupos familiares, grupos de amigos que desejam se organizar enquanto um negócio.
Marcio
Eu queria escutar de vocês de uma forma mais localizada, em um projeto especifico. Como é o dia a dia de um projeto que vocês gereciem? Quais são as principais entregas relacionadas com as comunidades que são apoiadas?
Carol
O dia a dia do projeto é muito desenhado junto com todos os stakeholders. Então os nossos projetos eles envolvem, então a gente tem os nossos parceiros implementadores, a gente tem o público alvo, a gente tem as organizações do território. Então nosso dia a dia do projeto é muito de diálogo entre todas estas partes. Cotidianamente pensando agora especificamente nas entregas. Como a gente tem projetos e processos muito distintos, a gente pode ter projetos de longo prazo, que por exemplo, na área de negócio envolve a incubação e aceleração de negócios que são processos de gradação distinta de apoio mais um processo de estruturação de negócios, mas ao mesmo tempo a gente também tem apoio pontuais, mais especificas, como por exemplo, assessoria, formações, cursos, oficinas. Então a gente tem diferentes tipos de produtos. Então no dia a dia do nosso trabalho, a gente pode estar no processo de construção de uma padaria comunitária. Então tem todos os desafios de uma construção, de envolver os atores locais nesse processo, mas também ter parceiros desde fornecedores de matéria-prima até pessoas que vão ajudar, enquanto serviços, para construir e estruturar esses negócios. Mas ao mesmo tempo a gente também, ainda mais neste cenário da pandemia, de como construir oficinas e cursos, em um formato semipresencial com metodologias que engajem públicos bem distintos, até do mundo da internet e como a gente constrói essas metodologias, esses diálogos. Então os nossos produtos podem ser de comprar um caminhão por uma cooperativa de reciclagem até como construir um fórum participativo em formato digital. Então a gente tem realmente uma cartela muito heterogênea de produtos que vão sendo costurados a partir dos objetivos de cada projeto compartilhados entre todos os stakeholders e a realidade do território.
Márcio
A gente estava lendo o material de vocês. E vocês falaram dos desafios que vocês têm de as vezes desenvolver o mesmo projeto ou adaptar o mesmo projeto para diversos negócios de impacto, que são bastantes diferentes entre si. Quais que são as estratégias que vocês usam? Como que vocês têm feito para conseguir isso?
Carol
A gente tem o modo ISES de como trabalhar, a gente tem um repositório de metodologias e fóruns. A gente tem vários fóruns internos de troca dessas experiências, então a gente faz um trabalho continuo de executar e refletir, então a gente está sempre neste processo de trocar e refletir sobre como a gente está atuando nos diferentes campos nos diferentes públicos. Então a gente tem este repositório de metodologia, de inovação. Então a gente tem algumas diretrizes, alguns modos de trabalhar. Então que tipos de fortalecimento que queremos proporcionar a estes diferentes públicos, territórios. Tem fortalecimento institucional das organizações sociais, fortalecimentos das cadeias produtivas, uma área de formação, apoio e assessoria e a gente tem estas referências, mas a gente pega essas referências e costura com os objetivos específicos de cada projeto com a realidade de cada território. Realmente é um processo de idas e vindas. Então a gente tem as nossas referencias, mas a gente se aproxima das realidades dos territórios e com isso a gente reconstrói e inova um processo de guardar nosso repertorio com aquilo que a gente já construiu, mas constantemente inovar.
Karliane
Eu acho que é isso mesmo com a Carol falou a gente tem somado esforços. Internamente para sempre olhar para a especificidade de cada projeto, mas também trazer aquilo que a gente já tem é de metodologia e se pode funcionar, mas também inovar, como ela falou e para isso a gente faz esses fóruns internos. A uma troca muito boa e muito interessante entre os próprios colaborador do ISES e dos diferentes projetos.
Márcio
Deu para ficar bem claro a questão da comunicação que é muito forte e muito necessária nesse momento de personalizar e de fazer essa junção com as linhas estratégicas. E neste podcast que faz parte da jornada PQPS! A nossa conversa de hoje segue com a Karliane Chave e a Carol Bernardes do Instituto de socioeconomia solidaria o ISES. E nós sempre tentamos trazer os conceitos de gestão de projetos e ver como eles se encaixam na pratica diária das organizações. E pensando nos processos de configuração de um projeto, eu queria escutar de vocês o seguinte. Vocês comentaram que um dos pontos frágeis dos desafios é exatamente isso, que a gente falou agora sobre a comunicação, que é a base para você fazer este alinhamento. Conta para a gente, quais são os problemas ou desafios que aparecem?
Carol
A comunicação é sempre um aspecto muito delicado diante dos projetos.
Karliane
É muito difícil porque a gente tem que alinhar as partes interessadas, então a gente sabe que o projeto vem como algo que tenta solucionar o problema comum, mas em compensação cada um, cada ator envolvido tem uma expectativa diferente. O nosso desafio é exatamente tentar entender o contexto de cada um, as expectativas de cada um, tentar aproximar todos esses stakeholders, para alinhar o máximo as expectativas, as responsabilidades, entendendo como que pode funcionar. E para isso a gente faz um acompanhamento dessa comunicação. Como a gente fala anteriormente, é dentro do nosso processo de trabalho a gente tenta fazer esse acompanhamento, esse alinhamento com as diferentes partes, mas sempre surgem desafios. Então no dia a dia a gente vai construindo ferramentas, processo de trabalho que deem conta de minimizar os riscos relacionados a comunicação.
Carol
Comunicação é um aspecto importante, então a gente está sempre monitorando. Com a “Ka” falou, os riscos, então a gente sempre avalia, quais são os nossos objetivos perante cada atividade, como essa atividade nos permiti chegar, entendendo que o projeto é um caminho que percorremos juntos, e que temos sim objetivos, mas é importante que todas as partes estejam olhando para esse mesmo objetivo. Então é muito importante que a gente monitore como esses objetivos são compartilhados, são compreendidos e no ISES a gente fala muito que a gente trabalha com ponte. Então é muito importante a gente fazer as pontes. Temos os nossos parceiros financiadores temos o nosso público. Então a todo momento a gente está proporcionando esse diálogo, entendendo onde cada um está, quais é o seu local, o quê que busca. E a partir disso a gente fazer essas costuras.
Márcio
Vocês vão fazendo este monitoramento de risco que qual maneira? Vocês vão conversando no dia a dia, mantendo contato, claro. Mas tem alguma ferramenta especifica, uma matriz, alguma coisa. Como é que vocês fazem no dia a dia?
Carol
No ISES a gente segue a metodologia do PMD para gestão de projetos, A gente tem uma matriz de riscos, até gente chama de matriz de problemas, quando esses riscos que a gente mapeou se configuram como um problema. Termos práticos no dia a dia na gente tem nossos fluxos, nas nossas reuniões de trabalho diário. Então toda vez que a gente está fazendo um planejamento de uma ação, às vezes menor que seja, às vezes uma comunicação, uma consulta aos participantes, uma explanação sobre como o projeto vai se desenvolver nestas próximas etapas a equipe toda sempre está muito atenta e procurando entender, como comunicar, como que está o contexto, fazendo uma leitura de ambiente, uma leitura de contexto para identificar se naquele momento da determinada forma, como essa comunicação, como essa ação pode ser sentida. E a partir disso desenvolve às vezes plano A, plano B, planos C. Os riscos eles são importantes porque a gente avalia a gravidade e a parte da gravidade do impacto a gente pensa ações frente a isso. Então essas ações são executáveis, então é importante porque esse plano de ação para mitigar um risco, ela vai dando o contorno do caminho do projeto. É algo muito fluido, então a gente tem as referências. O que que é uma matriz se ela não fazer sentido para equipe? É muito mais do que um preenchimento de uma ferramenta e muito mais um modo de olhar para a realidade e para o problema que a gente se propõe a resolver em coletivo pensando em equipe do projeto.
Márcio
Perfeito! Ficou super claro. Trazendo de volta para a nossa conversa a questão dos stakeholders, puxando pelo que você vem falando. Vocês no ISES tem algum procedimento para o alinhamento do trabalho e das expectativas com os diversos envolvidos com os stakeholders nos inicios dos projetos e até mesmo durante os projetos? Como é que vocês fazem isso?
Karliane
Então, nós temos alguns procedimentos que vão de acordo com as partes interessadas, desde abertura do projeto, como em relação as comunidades, aos grupos produtivos. O próprio diagnostico que é feito para que eles entendam qual que é o estágio daquele grupo produtivo, qual que é a fase que ele estão, que a gente consiga alinhar o quê que é possível ser feito dentro daquele projeto. Então é sempre um caminho muito de comunicação e de clareza, e a gente utiliza essas ferramentas, o diagnóstico. Nós estamos sempre acompanhando no dia a dia o desenvolvimento desses projetos, então a gente faz constantes avaliações de forma conjunta, e não só equipe técnica, mas também envolvendo os próprios grupos produtivos novamente. Então a gente faz esse acompanhamento continuo.
Carol
Complementando, linkando com a pergunta anterior. Quais as estratégias que a gente tem padrão, que nos orientam nos distintos projetos, é um pouco isso, então diagnósticos participativos eu acho que todos os nossos projetos tem essa premissa de fazer um diagnóstico participativo com todas as partes envolvidas, fórum e tomadas de decisão coletivos, em diferentes instâncias às vezes entre a equipe e o parceiro implementador, as vezes entre a equipe e a comunidade, fórum as vezes com todos os parceiros, entre parceiros implementador e comunidade, são ferramentas, são ações que a gente sempre cuida de ter a maior parte dos nosso projetos.
Marcio
Karliane, Carol a nossa conversa vai chegando ao fim. E ai chega o momento que a gente sempre propõe uma reflexão, que acontece em todos os nosso episódios. Se vocês pudessem pedir para alguém da nossa audiência responder. O quê que vocês perguntariam sobre seu próprio trabalho? Qual que é aquele que desafio que vocês vivem hoje que vocês gostariam de ouvir alguém falando, dando uma luz para vocês a respeito?
Carol
A gente tem diferentes, como a gente falou, públicos distintos, territórios distintos, objetivos específicos em cada projeto, mas a gente tem projetos bem abrangentes, que a gente envolve um público-alvo bem grande dentro de um único projeto. Um Desafio que a gente vive cotidianamente é como equilibrar, passionar, dialogar. dois desafios, como atender essa abrangência de público de modo, justa atender a todos da mesma forma, abrindo as mesmas possibilidades e oportunidades, atendendo com a mesma atenção, apoio técnico, mas também dialogando sobre o futuro do projeto, o futuro do que aquele grupo deseja. Exatamente esse segundo aspecto que é cada grupo é um grupo, porque quando a gente abre para todos essa mesmo tipo de atendimento, cada grupo, cada território, cada pessoa vai significar essa oportunidade de um jeito diferente, então vem o específico, aquilo que é de cada um. Então quando temos um único projeto com um público muito abrangente, como equacionar essa abrangência e um tratamento justo e equilibrado igual a todos, mas que também seja muito flexível e versátil de fazer um atendimento individual e um dialogo individual.
Márcio
Bom gente, obrigado por ter trazido esse material e por compartilhar com a jornada PQPS! O registro do trabalho do ISES no campo socioambiental brasileiro de 2020.
Carol
Imagina Marcio, muito obrigada pela oportunidade. Acho que nós todos que trabalhamos com projetos sociais a gente tem um brilho no olho. Esses projetos na verdade eles são, como eu disse antes, um caminho para solucionar problemas e buscar as transformações tal como está na missão do ISES, que você leu o princípio da entrevista. Então é realmente um prazer poder trocar e juntos construímos novas realidades, novas transformações. Então obrigada é um prazer está aqui.
Márcio
A conversa fica por aqui e a jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais continua nos nossos outros podcasts deste ciclo. Logo mais tem mais. Até!
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.