Entrevista realizada com Ricardo Lauricella, da Fleximedical. A Fleximedical fomenta a democratização de acesso à saúde, por meio de estruturas sustentáveis para o poder público e privado, como carretas da saúde, contêineres, vans entre outras unidades móveis de saúde, possibilitando que regiões vulneráveis tenham acesso a atendimento de saúde. O Ricardo nos contou como foi o processo de adaptação rápido – muito rápido – nos processos de produção para atender a demanda repentina dos produtos e soluções da Flexmedical trazida pela pandemia.
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais. Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo para a nossa conversa de hoje na jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais. Eu sou o Márcio Pires, falando pela Rede Tekoha, e esta conversa é parte de uma série de papos com quem atua na gestão de projetos socioambientais no Brasil em 2020.
Vamos juntos mais uma vez, mergulhar nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental, como por exemplo o nosso convidado de hoje o Ricardo Lauricella gestor de projetos da Fleximedical. Ricardo entrei no site de vocês hoje e vi que a Fleximedical é um negócio social certificado pelo sistema B, pioneiro na construção e arquitetura de carretas da saúde, containers, vans e outras unidades móveis e com isso vocês possibilitam que regiões vulneráveis tenham acesso ao atendimento de saúde. Eu vi no site trabalhos da Fleximedical no Jacarezinho no Rio, na Cracolândia aqui em São Paulo. Eu vou pedir para o Ricardo que nos conte mais a partir de agora. É um prazer conversar com você Ricardo, tudo bom?
Ricardo
Tudo bem Márcio, obrigado pela oportunidade. É um prazer estar contigo aqui e falar um pouquinho sobre o trabalho da Fleximedical.
Márcio
Maravilha. Aliás o Ricardo depois vai dar um toque pra gente porque ele também tem um podcast, no final você dá o endereço para o pessoal Ricardo.
Ricardo
Combinado!
Márcio
Eu dei uma visão geral na abertura, mas explica um pouco mais para gente como funciona a Fleximedical e quem que ela atende.
Ricardo
Sua introdução foi muito boa, realmente a fleximedical é um negócio social, onde direcionamos a maior parte dos nossos esforços para democratizar o acesso à saúde, então no país como nosso, em que o SUS é o principal forma de acesso de mais de 70% da população, a gente encontra alguns gargalos como por exemplo a falta do próprio acesso, então nas últimas pesquisas, um pouco antes ainda da pandemia do coronavírus, a gente via aqui mais de 37% das pessoas sequer tinha acesso ao SUS. O que quer dizer isso? Os locais de atendimento, mesmo em cidades como São Paulo que é uma megalópole, você tem uma dificuldade de encontrar os locais de atendimento. Claro que no centro expandido da cidade você tem uma alta concentração de pontos de unidade de atendimento médico ou de saúde em geral, mas quando você vai para as regiões mais afastadas do centro, e quando falamos em outros municípios pelo Brasil, isso se complica ainda mais. É essa lacuna que a fleximedical pretende e vem atuando ao longo dos últimos 15 anos. Como que a gente faz isso? Justamente como você falou, usando arquitetura hospitalar, criando unidades móveis de saúde, ou seja, carretas que abrem. A gente costuma brincar, como os Transformers daquele filme, aqueles caminhões e carros que se abrem e ficam até um pouco humanizados, e eles se transformam em verdadeiros centros médicos de atendimento. Essa flexibilidade, que vem inclusive do nome Fleximedical, é você poder criar atendimento obedecendo as normas de conselhos de medicina, todos os conselhos de saúde regulações da Anvisa com espaços em que o profissional de saúde pode atender e por fim dá acesso a esse cidadão que não tenho acesso à saúde no ponto que ele está. Seja numa grande cidade, seja numa área rural ou em áreas ribeirinhas. Por meio dessas unidades móveis esses pacientes ao invés de se deslocarem para outros centros de cidade grande para encontrar o atendimento, eles têm esse atendimento próximo de onde eles vivem.
Márcio
Por ser um serviço essencial vocês não pararam durante a pandemia, imagino que vocês acabaram trabalhando mais. Como que foi isso? Conta para a gente como foram as mudanças nesse período e como vocês se adaptaram?
Ricardo
Exatamente por estar no grupo de serviços essenciais de atendimento à saúde, a gente não foi chamado a fechar, ou seja, o princípios de lockdown que a gente teria tido no país, com os restaurantes que tiveram que fechar e diversos outros estabelecimentos, o nosso serviço ele não só foi convocado a continuar com a expandir. Então para você ter uma ideia, a gente na construção dessas unidades móveis de saúde de diferentes modelos a gente tinha diferentes tipos de prazos. Então a gente poderia levar de 20 a 90 dias para criar uma unidade móvel de atendimento. Durante a pandemia a gente teve que acelerar demais isso, afinal as pessoas estão morrendo e precisavam de locais para serem atendidas, então a gente teve unidades que foram construídas ou adaptadas em 15 dias e até unidades que foram construídas entre 35 e 40 dias, num refinamento muito grande, então imagina uma unidade que faz tomografia, exames de tomografia, a sala precisa ser toda revestida de chumbo, enfim, tem uma série de particularidades que tornam a arquitetura hospitalar mais complexa, mas o chamado para mitigar a covid era muito maior, então a gente teve que acelerar demais esse processo, entregamos unidades móveis que serviram de atendimento para exames, consultas, diagnóstico, triagem e testagem da covid, inclusive nos hospitais de campanha aqui de São Paulo, do Ibirapuera, por exemplo, e outras cidades de diversos pontos do país. A gente teve uma conscientização muito grande da equipe, porque afinal somos seres humanos que fazemos isso, não são robôs, então a todo mundo unido desse sentimento de ajuda, entrou na essa tomando os maiores cuidados possíveis, tanto em relação à EPI’s, como na própria preocupação com a saúde mental, afinal nossos colaboradores têm suas famílias A gente fez a uma série de programas de apoio à saúde mental também ao nosso time e por isso conseguimos só nesse período de pandemia conseguimos atender mais de 38.000 pessoas nessas unidades durante a pandemia.
Márcio
Nesse podcast que faz parte da jornada PQPS a gente conversa hoje com Ricardo Lauricella gestor de projetos da Fleximedical e na jornada PQPS! Nós vamos ter um encontro entre os participantes para falar sobre os conceitos de agilidade. E no link que a gente fez com o ágil a partir do caso da Fleximedical, Ricardo você comentou na apresentação que nos mandou que a equipe sente falta da sistematização dos processos de trabalho em framework que possam ser mais compreensíveis. Como vocês organizam hoje os processos e as informações geradas?
Ricardo
A gente tem melhorado com o decorrer dos anos, mas ainda precisa melhorar muito mais, porque esse número de 38.000 pessoas atendidas a gente ainda acha muito pouco perto de tudo que tem acontecido no país. E esse é um ponto que a gente acredita que pode ser bastante melhorado, tanto com ampliações de metodologias, como você bem disse do framework, a gente pode ter uma agilidade maior para conseguir fazer as nossas entregas por conta dessa emergência que se torna tão mais gritante. A gente tem alguns sistemas implantados, não vou mentir Márcio, a gente ainda usa muito excel e temos muitas planilhas que vamos construindo e customizando de acordo com as nossas necessidades. Temos incorporação de alguns sistemas de CRM. Recentemente, até em vista de um momento de aceleração que a gente passou, criamos os quadros de gestão à vista, e as reuniões tentando experimentar um pouquinho dos conceitos de metodologia ágil.
Márcio
Sobre o ágil e a gestão de projetos tradicional, tudo isso tem muito a ver com comunicação, com quebra das barreiras entre as pessoas, a gente que faz gestão de projetos, falamos e nos comunicamos o tempo todo. Esse é outro ponto que achamos legal levantar aqui no papo. Como é que funciona a comunicação entre equipe? Fala como que vocês são, quantas pessoas são e como vocês trabalham juntos para colocar tudo para rodar?
Ricardo
Esse é um ótimo ponto Márcio, porque eu sou um profissional que vem da área de comunicação, eu sou jornalista por profissão e por formação, atuei com o gestor de organizações de impacto nos últimos 15 anos. O convite para minha participação na Fleximedical foi justamente por conta desse passado/presente de comunicação. Justamente por conta disso e principalmente, queira ou não, temos um ambiente fabril ali, tem uma fábrica, você tem um escritório de arquitetura, você tem o desenvolvimento de projetos de engenharia, todas as áreas tradicionais de administração e RH, mas essa interlocução entre o arquiteto que cria os projetos, enfim, toda equipe que entende as necessidades e as dores dos clientes dos hospitais, dos serviços de saúde que precisam dos nossos produtos, foi um ponto importante de usar a metodologia ágil com um propulsor de uma comunicação efetiva para diminuir possíveis problemas que a gente possa ter de deslocamento.
Tem um outro ponto que trago um pouquinho da pergunta anterior, sobre o agente se manter aberto quando muitos fecharam, tem muito de comunicação isso, para você ter uma ideia, muitos dos serviços que não eram considerados essenciais eram fundamentais para a criação das nossas unidades. Então você tem serviços desde marcenaria, chapas de madeira, chumbo e alumínio, então uma série de produtos que são insumos base para nossa produção e que muitos deles diminuíram, fecharam e encerraram sua produção, a gente teve que usar narrativa de um negócio de impacto da importância do que a gente estava fazendo, somado a todo o processo produtivo que a gente tem para poder conseguir suprir isso. E isso foi muito bacana porque não só falando dos nossos parceiros e dos fornecedores a gente tem essa interlocução. Então essa interlocução, essa comunicação do time, ela foi vital para o nosso desenvolvimento. Não é só entregar um produto, a carreta e acabou. Tem uma fase de implantação, então o quadro gestão à vista foi super importante, mas não é só isso, tem que ter um elemento humano presencialmente, primeiro para falar de cultura para entender que a cultura nossa está mudando um pouco, que a gente precisa fazer essas reuniões ágeis para entender e só aí a pessoa ir para uma unidade A B ou C.
Márcio
Mas no total, em quantas pessoas são vocês?
Ricardo
Desculpa, eu não cheguei a te falar. Hoje a gente tem uma equipe contínua de 16 pessoas. Como a gente tem produções que são sazonais, bom agora com o covid eu não sei o quão sazonal vai ser isso, mas até então a gente tinha produções sazonais, ou seja, entregas e pedidos de unidades muito conectadas com outubro rosa, novembro azul e ações de saúde particulares, fora as outras. Contamos com uma equipe terceira de profissionais que trabalham conosco para fazer a produção. Então se a gente considerar que esse grupo está trabalhando continuamente, hoje estamos em 25/30 pessoas continuamente.
Márcio
Uma equipe bem razoável, tem que ter bastante cuidado na comunicação porque tem muita gente e muitos papéis diferentes. Para a gente fechar o desenho do modelo de negócio. Como é hoje o modelo de negócio de vocês? De onde vem a receita da Fleximedical?
Ricardo
A nossa produção é diretamente conectada com um modelo B2B e B2G tanto para negócio para negócio quanto negócio para governo. A gente faz tradicionalmente a gente atua com vendas de unidades móveis e aluguéis. Essas vendas podem ser ancoradas em licitações em pregões e todo tipo de chamamento público, isso quando a gente está lidando com o poder público e também tem os formatos de venda direta. Então a depender do escopo do serviço a gente tem a receita vindo diretamente do prestador de serviços. Na verdade, tem um terceiro elemento que são as organizações sociais que prestam serviços de saúde para as prefeituras, secretarias de saúde dos municípios, elas muitas vezes desenvolvem um trabalho do RH, ou seja, tem os médicos, os profissionais de saúde, mas não tem o espaço. Então muitas vezes eles também são os que locam as nossas unidades para realizar os atendimentos.
Márcio
Estamos chegando ao final da conversa e a gente sempre termina o papo levantando uma bola para a pessoa entrevistada perguntar. Se alguém da nossa audiência pudesse responder agora, qual é o desafio do seu trabalho sobre o qual você gostaria de ouvir alguém te apoiando?
Ricardo
Vou tentar ser sucinto, mas vou lançar dois. Um é melhorar a nossa análise e a nossa organização do banco de dados de impacto social, não só do beneficiário final/paciente, mas como todos os outros atores do ecossistema. E o outro ponto é o que a gente tanto falou dos frameworks. Seria como elaborar e adaptar essas metodologias para algo tão específico quanto é o desenvolvimento de unidades móveis em saúde.
Márcio
Maravilha. Ricardo obrigado por trazer esse material e por compartilhado para a jornada PQPS! o registro do seu trabalho no campo socioambiental brasileiro de 2020. E conta para a gente também, o seu podcast como é?
Ricardo
Que bacana! Obrigado mais uma vez por essa oportunidade de estar neste grande processo com vocês. Obrigado pela propaganda do meu podcast. Meu podcast é A Causa que está disponível nas principais plataformas de podcasts, Spotify ,Apple Deezer, Google é só buscar: a causa, almanaque de variedades. É um podcast para falar sobre motivação, propósito, terceiro setor e empreendedorismo social.
Márcio
A conversa fica por aqui e a jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais continua nos nossos outros podcasts deste ciclo. Logo mais tem mais. Até!
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.