Neste episódio extra e especial da série PQPS!Talks convidamos a Rosana de Souza Brito, que trabalha na EmpreendeAí, Escola de Negócios da periferia para a periferia e é responsável pela gestão de um dos coworkings públicos voltados para microempreendedores da Prefeitura de São Paulo. Na entrevista, ela aborda sobre como a Escola mensura o resultado que ela alcança com as atividades junto aos empreendedores e também sua inquietação sobre a incerteza sobre não controlar todo o impacto gerado.
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais. Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo para a nossa conversa de hoje na jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais. Eu sou o Márcio Pires, falando pela Rede Tekoha, e esta conversa é parte de uma série de papos com quem atua na gestão de projetos socioambientais no Brasil em 2021.
Vamos juntos mais uma vez, mergulhar nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental, como a convidada de hoje a Rosana de Sousa Brito que é gestora de um coworking público voltado para microempreendedores, uma iniciativa da secretaria municipal do desenvolvimento econômico, trabalho e turismo da prefeitura de São paulo. Para explicar um coworking é um espaço colaborativo de trabalho. A atuação da Rosana enquanto gestora acontece pela Empreende Aí que é uma escola de negócios da periferia para a periferia e que faz a gestão destes coworking onde são ofertadas diversas atividades e onde também são disponibilizados conteúdos relevantes para os empreendedores que fazem uso dos espaços. Ela vai contar mais sobre essa iniciativa a parte de agora. Então Rosana é um prazer conversar com você. Tudo bom?
Rosana
Tudo ótimo. Primeiramente muito obrigada pelo convite de participarmos dessa jornada PQPS! Está sendo maravilhoso, pena que está terminando, mas está sendo muito bom e eu quero agradecer. Eu sou gestora de um coworking público. São colaborativas de trabalho espalhados pelas periferias de São Paulo, conta com toda uma infraestrutura para os empreendedores realizarem esse trabalho, para que eles recebam os clientes, realizem parcerias através de encontros de networking. Um coworking que foi desenvolvido pela The Sampa que é a agência São Paulo de desenvolvimento por intermédio da secretaria do desenvolvimento econômico, trabalho e turismo da prefeitura.
Márcio
Como funcionam estes coworking no dia a dia? Como que rola o trabalho cotidiano neles?
Rosana
Agora por conta da pandemia estamos trabalhando em horário reduzido, mediante agendamento prévio, mas estão abertos com estas restrições. O nosso trabalho, simplificando, é de atender estes empreendedores como se fosse um coworking mesmo, com toda a infraestrutura que existem nesses espaços colaborativos do Itaim Bibi, por exemplo, na região da Paulista do centro de São Paulo, só que nas periferias. Então hoje a prefeitura possui a The Sampa que tem dez teias na cidade de São Paulo e todas elas em bairros em territórios que de alguma forma apresentam alguma vulnerabilidade social. Então estão especificamente nas periferias.
Márcio
Nessa parceria, quais são os resultados? Eles exigem resultados mínimos a serem alcançados? Como vocês mensuram os resultados?
Rosana
As atividades que a gente realiza são várias, entre elas, formações, capacitação, tudo voltado para empreendedor lá da periferia do território onde está a teia. Claro que a gente atende pessoas de todas as regiões da cidade de São Paulo e até fora. E os resultados que a gente mensura nessas atividades são participação deles, conteúdo que a gente apresenta, acompanhamento no desenvolvimento do seu projeto, do seu negócio. Tem muita gente que tem apenas uma idéia e quer desenvolver e começar a empreender de verdade, mas ainda não tem no know how e expertise, então a gente elabora esse tipo de atividade e a gente mensura os resultados a partir de dados e ferramentas simples que a gente possui, como Google, Forms entre outros, pois é de fácil acesso e a maioria pode acessá-las. É mais ou menos isso, quantidade de pessoas que haja mais ou menos isso né quantidade de pessoas que circulam, quantidade de participantes.
Márcio
Qual é o seu papel enquanto gestora do coworking? Como é a sua atuação pessoal?
Rosana
Articulação de rede principalmente, rede entre os empreendedores, entre as lideranças populares nessas regiões, mapeamento da própria comunidade. Além de gestora de coworking eu também sou gestora de comunidade, então essas lideranças atuando, promovendo essas conexões entre os setores públicos, privados, parcerias entre eles, desenvolvimento de atividades de formação, facilitação entre eles. A nossa preocupação também é traduzir essa informação em uma linguagem acessível para esses empreendedores, fazer a ponte, a ligação das necessidades deles com as políticas públicas envolvidas, trazer melhoria para os negócios deles. Para empreendimento, seja ele de produto ou de serviço em outras atividades de gestão também dentro do espaço.
Márcio
Você já falou um pouco do seu papel com articulação de rede além da gestão do espaço. Muito da articulação que acontece em uma situação como esta no tipo de projeto como este. Conte para a gente, como é este relacionamento que é construído com os empreendedores que vocês atendem?
Rosana
Agora no formato on line, no hibrido entre o presencial e online, porque a gente continua com atividades também, por conta do isolamento social, então o nosso relacionamento se dá principalmente mídia sociais, telefonemas, todos os meios de comunicação que a gente utiliza para se aproximar dele ou empreendedor periférico. A gente sente e promove através desse sentimento, o acolhimento que ele necessita, porque muitas vezes esses empreendedores começam por conta da falta de renda mesmo ou para complementar a renda já existente, porque de alguma certa forma ela não supre as necessidades da família naquele momento, então ele precisa começar a empreender. O que a gente nota é que existe muitos que não tem uma noção básica, uma noção mínima de como gerir o próprio negócio, como até mesmo iniciar. Então o relacionamento com eles a gente procura ser o mais humano possível, entendendo as dores, as necessidades deles e elaborar um passo-a passo, desde o início, desde do autoconhecimento principalmente para que ele possa desenvolver o negócio dele desde o início da ideia até o produto final, até o serviço que ele pretende trabalhar, promover e vender.
Márcio
Neste episódio do PQPS! Talks este podcast que faz parte da jornada PQPS! A nossa conversa de hoje é com a Rosana Brito da Empreende Aí. E como um dos encontros da jornada fala bastante sobre MEAL da sigla em inglês para monitoramento avaliação accountability e aprendizado, eu queria escutar de você Rosana um pouquinho mais sobre essas questões de mensuração que aparecem no trabalho da Empreende Aí. Você falou no material que vocês enviaram para a gente sobre a frustração de as vezes de não saber se o conteúdo, as formações, as atividades desenvolvidas impactam os negócios dos empreendedores de forma positiva. E você também mencionou que a maior dificuldade é coletar dados, mensurar a efetividade das atividades em todos os negócios. Como se relaciona com os resultados esperados da parceria que você citou antes e quais os indicadores vocês já mensuram? Você já falou um pouquinho disso, mas eu queria aprofundar um pouco mais agora.
Rosana
A Empreende Aí que faz a gestão de coworking que eu faço a gestão que é o Teia Butantã a gente tem essa coleta de dados e consegue mensurar realmente de fato esses dados principalmente sobre o sucesso do empreendimento através de como o próprio empreendedor está tendo uma rentabilidade através do negócio. Então basicamente é isso. Porém o principal indicador que nós temos é o número de pessoas impactadas. O que nós trabalhamos hoje em todos os Teias é o número de pessoas impactadas que temos, diretamente pelas formações. Então a gente mensura, pela quantidade de formações que realizamos e dos participantes, os números de frequentadores dos espaços físicos nestas atividades e com isso a gente tem uma noção, tem dados sobre o que estamos incentivando o empreendedorismo na periferia. Nosso desejo sempre é implementar aos poucos formatos diferentes ou até ferramentas novas que possamos mensurar o aumento de renda, o tempo de duração dos negócios para ter isso. Então é um trabalho aos poucos, hoje não temos como acompanhar isso dessa forma. A coleta de dados a gente mensura os resultados através disso com o principal indicador que é o número de pessoas que participam dessas atividades. Eu tenho um dado aqui inclusive Márcio que mais de quatrocentos mil e quatrocentos empreendedores foram impactados, pois participaram de algumas atividades que realizamos entre janeiro e abril de 2019, este é um número bem significativo para os espaços que estavam abertos naquele momento, acredito que eram apenas entre 4 e 5 coworking, então é um número bem significativo, mas no geral a nossa dificuldade mesmo é de acompanhar a longo prazo para saber realmente se esses negócios estão tendo aumento de renda, quanto tempo está durando esse próprio negócio. Ainda não temos efetivamente uma ferramenta para mensurar isso. Basicamente é através dos números de pessoas impactadas que temos como indicador.
Márcio
Neste momento você está mais quantitativo e depois você parte para o qualitativo. Aprofundando, no material que você mandou apresentando o trabalho, você contou que a sua definição de sucesso para o projeto é de impactar positivamente de forma orgânica, tanto nos negócios dos microempreendedores quanto na comunidade em que eles estão inseridos pelo menos 30% dos atendidos. Então explica mais dessa definição de sucesso para a gente. Conta de onde ela vem e o que que ela quer dizer no detalhe.
Rosana
Eu coloquei 30% porque eu entendo que é difícil a gente chegar a pelo menos 50%. A dificuldade de trabalhar com projetos de impacto social, é justamente esse de você reconhecer a quantidade de pessoas que estão sendo impactadas positivamente no seu trabalho, no seu projeto e esse realmente é uma dor que eu carrego, porque a gente tem os dados, mas não temos uma dimensão do resultado efetivo do quanto a gente gostaria de chegar. Eu coloco no mínimo 30% e esse impacto eu penso que ele tem que ser positivo não só para o negócio do empreendedor, mas também para a comunidade que ele está inserido, porque daí você tem uma economia que circula dentro da região onde o negócio dele está. Na maioria das vezes a maioria dos casos dos negócios estão dentro da residência deles, e a maioria não é formalizada ainda, embora a gente incentiva muito a formalização desses negócios para que eles fiquem muito mais seguros em relação a tudo que envolve essa formalização, mas até para que eles possam se sentir mais fortes e até mais empoderados nos negócios deles. A gente entende que a maioria desses negócios são dentro da residência, então eu penso que essa forma orgânica de impacta positivamente é quando ele tem uma boa rentabilidade no negócio e que ele possa ter a renda 100% do negócio e não que seja um complemento de renda e que esse lucro que ele tem é a partir do negócio dele seja também distribuído na região onde ele está, no território onde ela atua. Porque existem outros negócios lá também e a gente tenta fazer esta formação de rede mesmo, dessa teia que a gente fala sobre os empreendedores locais na região e até de outras regiões também. De repente seu empreendimento está bem sucedido no lugar onde ele está, e de repente ele não tem mais público pois já atingiu o público dali, ele pode ir buscar outras oportunidades em outros bairros, desde que ele tenha todo aparato e toda infra-estrutura para chegar até lá. Isso a gente oferece dentro das formações, capacitação que a gente elabora e desenvolve ao longo do tempo. A gente entende que existe uma metodologia para que eu chegue até o produto final, até para escalar este negócio, mas que principalmente fosse distribuído no início, pelo menos, para fortalecer a comunidade onde o negócio está inserido.
Márcio
Rosana estamos chegando ao final da nossa conversa e eu vou propor uma reflexão que fazemos juntos com todas as pessoas entrevistadas. Se você pudesse pedir para alguém da nossa audiência te responder, o que você perguntaria sobre o seu próprio trabalho? Qual é aquele desafio que você está me vivendo neste momento que você gostaria de ouvir alguém te dando uma luz a respeito?
Rosana
Eu gostaria de saber de quem puder ajudar que
Está na jornada aqui conosco com a equipe da Empreende Aí, como exatamente criar esse círculo de prosperidade na comunidade com o lucro do produto que o empreendedor desenvolve de uma forma efetiva. Como isso poderia acontecer? Essa é a pergunta que eu gostaria de deixar.
Márcio
Perfeito! Rosana muito obrigado por ter trazido este material e por compartilhar com todo mundo da jornada PQPS! o registro do seu trabalho no campo socioambiental brasileiro de 2021.
Rosana
Eu que agradeço. Agradeço a rede Tekoha, a jornada PQPS! Mais uma vez vou dizer que agradeço imensamente a oportunidade de vocês por estar ofertando tanto conhecimento para a gente e tanta abertura de ideias, de soluções também para os nossos questionamentos.
Márcio
A gente fica por aqui e a jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais continua nos nossos outros podcasts deste ciclo. Logo mais tem mais. Até!
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.