O que é o Complexo de White Savior e qual sua relação com as ONGs
Com origem nas práticas colonialistas ocidentais, o termo representa hoje ações racistas e discriminatórias que podem acontecer no trabalho humanitário de apoio e fortalecimento de populações em vulnerabilidade
Dentro do setor de impacto socioambiental o Complexo de White Savior (Salvador Branco) tem sido uma situação frequente e que afeta o desenvolvimento das atividades de organizações e seus projetos, prejudicando relação com comunidades, e reforçando relações dentro de uma estrutura racista. Neste artigo exploraremos o que é o Complexo de White Savior e sua relação com as ONGs, discutindo sobre os cuidados essenciais que organizações precisam adotar ao lidar com questões globais de ajuda humanitária. Vamos examinar como esse complexo se manifesta e por que é crucial reconhecer e evitar seus impactos negativos.
O que é o Complexo de White Savior?
O Complexo de White Savior se refere a uma mentalidade paternalista em que indivíduos de origem ocidental acreditam que têm a responsabilidade de “salvar” populações não ocidentais. Originado na era colonial, esse fenômeno persiste na ajuda humanitária, manifestando-se quando intervenções bem-intencionadas perpetuam desigualdades, estereótipos, reforçando o racismo, minando muitas vezes, os esforços de desenvolvimento sustentável nas comunidades receptoras.
Hoje já se entende que o perfil “salvador branco” vai além do ocidente versus não-ocidente, perpassando em vários ambientes e contextos em todo o mundo, até mesmo no cinema. Essa mentalidade paternalista muitas vezes se manifesta na crença de que indivíduos ou organizações – composta em sua maioria por pessoas brancas – são mais capazes de resolver os problemas das comunidades em situação de vulnerabilidade, ignorando as vozes locais e perpetuando relações desiguais.
Impacto nas comunidades locais
Como impacto nas comunidades locais o Complexo de White Savior reforça uma dinâmica em que esses ambientes são retratados como incapazes de resolver seus próprios problemas. Isso pode resultar em desempoderamento, pois as comunidades podem sentir que são vistas como passivas e dependentes da ajuda externa, contribuindo para relações de dependência.
Além disso, se força a imposição de valores, práticas e soluções “ocidentais” nas comunidades locais, o que pode levar à perda da identidade cultural e à não consideração das perspectivas locais.
A representação das comunidades locais como vítimas indefesas em necessidade de salvação contribui para estereótipos prejudiciais. Isso pode criar uma imagem negativa das comunidades, afetando sua autoestima e reforçando preconceitos. Um exemplo são campanhas humanitárias em que fotos e imagens de crianças em situação de alta vulnerabilidade são expostas com apelo sensacionalista, sem considerar todo o contexto envolvido, ou ainda pior, sem autorização adequada do uso de tais imagens.
Boas práticas e ferramentas para ONGs
Para eliminar o complexo de White Savior é importante que ONGs, gestores e pessoas que atuam dentro do contexto de impacto socioambiental identifiquem tais padrões dentro de uma estrutura social onde o machismo, o racismo, e tantos outros comportamentos ainda reforçam práticas discriminatórias, mesmo que mais subjetivas, como o complexo de White Savior.
Com isso é necessário que organizações e equipe adotem práticas voltadas a sensibilização do tema com profunda compreensão da cultura local, a partir de uma abordagem mais inclusiva, colaborativa e culturalmente sensível, dando ênfase à autonomia e aos conhecimentos das comunidades locais.
Algumas práticas e ferramentas que podem ser adotadas pelas organizações envolvem:
– Estudo continuado sobre o tema dentro de Diversidade e Inclusão, estimulando a construção de referências que provoquem a reflexão sobre o tema no desenvolvimento de equipes – desde os cargos de liderança até atividades mais executivas em campo.
– Participação comunitária com envolvimento ativo nas atividades das comunidades beneficiárias.
– Adoção de estratégias que promovam a autonomia e o desenvolvimento local e sustentável, como por exemplo a contratação de equipe e serviços locais.
– Cooperação com organizações locais em uma abordagem que considere o trabalho em conjunto.
– Avaliação de Impacto, com a implementação de métodos de avaliação que levam em consideração o feedback das comunidades locais.
– Manual de Ética e procedimentos que contemplem uma postura inclusiva e em defesa da diversidade, garantindo a proteção do público beneficiário.
– Práticas de comunicação e divulgação de resultados que não reforcem estereótipos ou explorem de forma indevida e sensacionalista a imagem de moradores locais.
– Planejamento continuado e colaborativo com toda a equipe no tema de Diversidade e Inclusão, contemplando as relações em campo com os beneficiários e comunidades locais.
Ao compreender e combater o Complexo de White Savior, as ONGs podem desempenhar um papel mais eficaz na promoção do desenvolvimento global. A adoção de práticas sensíveis, inclusivas e empoderadoras é crucial para garantir que as ações humanitárias tenham um impacto positivo e sustentável nas comunidades locais.