O marco lógico é uma ferramenta que mostra de maneira visual como as atividades de um projeto se relacionam com seus resultados, objetivos e impacto. É um instrumento conhecido no universo da gestão de projetos sociais e ambientais e é um dos destaques do Project DPro, o conjunto de boas práticas em projetos sociais conhecido anteriormente como PMD Pro. Bastante citado na literatura técnica desde o início da década de 1970, o marco lógico tem seus principais conceitos apresentados neste post.
Abaixo está um modelo da tabela que também é conhecida Matriz de Marco Lógico
Quais são os principais conteúdos que você vai encontrar neste post?
A seguir, listamos os títulos que vocês vão encontrar ao longo deste post, assim fica mais fácil ir direto para a informação que vocês estão buscando.
1. O que é o marco lógico
2. Elementos do marco lógico
3. Lógica vertical e lógica horizontal
4. Marco lógico: um exemplo possível
5. Para saber mais: outras fontes relevantes
6. Baixe um exemplo editável de marco lógico
1. O que é o marco lógico
O marco lógico é uma matriz 4×4 (quatro linhas e quatro colunas) que estabelece uma relação lógica entre aspectos macro do planejamento de um projeto, facilitando a visualização da relação entre descrições de níveis, indicadores e pressupostos, entre outros elementos. O marco lógico é um instrumento de gestão de projetos encontrado com diversos nomes: matriz lógica, matriz de quadro lógico, quadro lógico ou, no original inglês, “logframe”, ou “logical framework matrix”.
O marco lógico foi adotado em 1970 pela United States Agency for International Development (USAID), a agência americana para desenvolvimento social internacional. No livro “Metodologia Participativa”, Markus Brose conta que a USAID enfrentava basicamente três problemas em seus projetos e buscavam solucioná-los:
- Objetivos vagos e sem relação com as atividades programadas;
- Falta de clareza sobre a responsabilidade do gerenciamento;
- Conflitos durante a avaliação dos projetos em função da ausência de metas claras.
Como se vê, alguns problemas atuais na gestão de projetos sociais já eram enfrentados meio século atrás, quando a consultoria Practical Concepts Incorporated (PCI) foi contratada pela USAID com quatro objetivos:
- Possibilitar uma visão clara e objetiva dos impactos em projetos de sucesso;
- Definir os limites das responsabilidades dos gestores;
- Apresentar os elementos básicos do projeto e seus relacionamentos para facilitar o entendimento das partes envolvidas;
- Substituir a pergunta “Quem devemos culpar?” por “Qual é o planejamento mais realista para o impacto futuro com base no que sabemos agora?”.
2. Elementos do marco lógico
Depois de cinquenta anos sendo usado por diversas organizações em todo o mundo, o marco lógico sofreu adaptações e variações de nomenclatura, quase sempre mantendo as quatro colunas e quatro linhas de sua proposta original. Neste texto, é importante que fique claro, usamos os termos em português e inglês usados na segunda edição do Guia Project DPro.
As linhas do marco lógico:
Impacto (goal)
um benefício superior, que possivelmente não será atingido somente pelo que o projeto alcançar. Por exemplo: um projeto de vacinação contribui para a melhoria de indicadores de saúde de uma população. No entanto esse projeto isoladamente, por mais que seja bem sucedido, provavelmente não terá como resolver todos os problemas de uma comunidade que não tenha acesso a saneamento básico.
Objetivo (outcome)
o(s) benefício(s) que o projeto vai entregar, de uma maneira geral ou em um nível mais alto. Novamente pensando no projeto de vacinação, o objetivo pode ser erradicar uma determinada doença de uma população.
Resultado (output)
é uma ou mais entregas do projeto, de uma maneira mais visível. O nosso projeto de vacinação pode ter como resultado a vacinação de 100% de uma comunidade no período de 180 dias.
Atividade (activity)
é o que terá que ser feito para que os resultados sejam alcançados. No nosso projeto, para chegar a 100% da comunidade serão necessárias as aplicações de 20 milhões de vacinas.
Monitoramento e avaliação:
Uma maneira mais fácil de entender as diferenças entre os quatro níveis é que os dois superiores são os alvos da avaliação do projeto, no médio e longo prazo.
Já os dois níveis inferiores geralmente podem ser monitorados no desenvolvimento cotidiano do projeto e estão no alcance das ações diretas do projeto.
As colunas do marco lógico:
Descrição (description)
como o próprio nome indica, esta coluna descreve de forma geral o escopo daquela linha. De acordo com a complexidade do projeto, pode haver diversos itens em cada linha.
Indicadores (indicators)
a mensuração (pode ser quantitativa ou qualitativa) do que será verificado em cada linha.
Fontes de verificação (means of verification)
por meio de quais fontes cada indicador poderá ser verificado. As fontes de verificação indicam ao executor ou ao avaliador onde é possível obter a informação necessária para a construção dos indicadores.
Pressupostos (assumptions)
as premissas que estão sendo usadas para cada linha. Algumas variações chamam essa coluna de “risks / assumptions”, dado que há um risco implícito caso o pressuposto não se concretize.
3. Lógica vertical e lógica horizontal
Dois fluxos lógicos funcionam simultaneamente no quadro: a lógica vertical prevê que cada linha, caso ocorra, possibilita a ocorrência da linha seguinte, partindo de baixo para cima. O Guia Project DPro apresenta essa lógica com o fluxo abaixo, presente desde o documento da PCI elaborado nos anos 1970.
Já a lógica horizontal conecta as colunas de descrição e de pressupostos. Se os pressupostos assumidos seguirem válidos durante o projeto, a probabilidade de sucesso deverá aumentar. Portanto, o monitoramento dos pressupostos está ligado ao gerenciamento dos riscos do projeto. O Guia Project DPro também apresenta a lógica horizontal por meio de um fluxo que reproduz o diagrama original da PCI.
4. Marco lógico: um exemplo possível
Muitos autores e facilitadores no campo da gestão de projetos não apresentam exemplos de ferramentas por diversos motivos. Desde o risco de direcionamento do raciocínio até a dificuldade de oferecer modelos sem ferir a confidencialidade de projetos reais, passando pelo tempo necessário para a elaboração de exemplos consistentes, oferecer um marco lógico que possa apoiar profissionais no uso da ferramenta não é uma tarefa simples.
A PhD em saúde pública Piroska Bisits Bullen elaborou o exemplo de marco lógico abaixo, publicado originalmente no site Tools4Dev e traduzido para o português pela Rede Tekoha.
No final do post você encontra o arquivo editável em para download. Não custa lembrar: cada projeto é único e é sempre aconselhável elaborar planejamentos participativos para buscar visões complementares.
5. Para saber mais: outras fontes relevantes
Não há muito material na internet em português sobre o marco lógico, principalmente para profissionais que estão iniciando o uso da ferramenta. É por isso que fizemos este post com um passo a passo bem elaborado. Além disso, a Rede Tekoha também recomenda os links abaixo para ampliar os conhecimentos sobre a ferramenta e para aprimorar o repertório crítico.
Links sobre marco lógico em português
1. A Move Social publicou uma provocação interessante: “O problema da Teoria de Mudança é a ausência do problema”, partindo do marco lógico para falar sobre a Teoria de Mudança e propondo um novo modelo.
2. No Ideia Sustentável, a professora Maria Cecília Prates Rodrigues faz outra provocação: é possível usar o marco lógico somente na avaliação, sem que ele tenha sido aproveitado no planejamento?
3. Ricardo Vargas, em um episódio do seu podcast 5 Minutes PM, faz a ligação conceitual do marco lógico com as ferramentas ágeis e abre a possibilidade do uso do marco lógico em outros projetos além do campo de desenvolvimento social.
4. O Projeto Draft dedicou um de seus verbetes à metodologia ZOPP, apresentada como uma releitura do marco lógico original da USAID.
Links sobre marco lógico em outras línguas
5. Entre os links em outros idiomas, a matéria do jornal inglês The Guardian traz um guia do marco lógico para iniciantes, compilando referências de outras fontes.
6. O Tools4Dev já citado anteriormente, foi uma das referências usadas pelo The Guardian. Apesar de não ser atualizado há bastante tempo, o site traz modelos e exemplos de diversas ferramentas em licença Creative Commons.
7. A Comisión Económica Para América Latina Y El Caribe (Cepal) disponibiliza um extenso manual em espanhol trazendo não só o marco lógico como outras ferramentas abordadas pelo Project DPro como a EAP e as árvores de problemas e de objetivos.
8. Por fim, o Logframer é um software livre que apoia a elaboração do marco lógico, trazendo também recursos para planejamento de tempo e de custos.
6. Baixe um exemplo editável de marco lógico
Modelo Editável de Marco Lógico
A Rede Tekoha traduziu um dos arquivos Creative Commons do site Tools4Dev com exemplo de um marco lógico de um projeto hipotético de estímulo a leitura para crianças de quinto e sexto ano.
Você pode baixar inserindo seu nome e e-mail abaixo, que você será direcionado diretamente para o documento editável em Word.
Guia Gestão de Projetos Project DPro
Se você também quiser baixar gratuitamente a última edição do Guia em português de Gestão de Projetos Project DPro, é só inserir seu nome e e-mail abaixo, que você será direcionado para o PDF.
Esperamos que tenham gostado deste material. Ele foi escrito com base em trabalhos já desenvolvidos pela Rede Tekoha, mas compilado e todo organizado pelo nosso guru técnico e parte da nossa equipe Marcio Pires.