Não, você não vai precisar entender de tecnologia para saber o que um dos conceitos mais falados dos dias de hoje tem a ver com a gestão de projetos ágeis no desenvolvimento social. Neste artigo, nós vamos começar uma conversa sobre os conceitos de agilidade e sua aplicação no campo social.
A mentalidade ágil
Você está gerenciando um projeto de desenvolvimento social. O público-alvo e o contexto foram estudados, o diagnóstico da situação foi feito, o relacionamento com o patrocinador foi alinhado e o planejamento está detalhado. O projeto tem o escopo bem definido e foi formalizado em um contrato cuidadoso, com entregas detalhadas e, por isso, com poucas margens para ajustes. Mas, em algum momento, alterações no contexto acontecem: podem ser mudanças relacionadas ao perfil e demandas dos beneficiários ou então fatores externos ligados à política, economia ou legislação. Tudo isso faz com que as entregas originais passem a ser irrelevantes, já que não atendem mais ao novo contexto pós-mudanças.
Em uma situação como essa, existe o risco que as consequências das mudanças só possam ser detectadas na entrega final ou mesmo na prestação de contas. Ou, tão frustrante quanto, o projeto pode ser executado com a equipe desconfiada de que está apenas cumprindo o contrato e entregando resultados protocolares, sem que haja certeza de que algum valor seja realmente sendo entregue para a sociedade.
O excesso de burocracia e documentação gerou tanta morosidade que os objetivos se perderam em meio à papelada e você só tem uma certeza: neste projeto, nem mesmo os fins vão justificar os meios.
O Manifesto Ágil
A necessidade de mentalidade ágil (ou de bom senso), que mudaria muito o panorama acima, certamente é um ponto em comum entre o campo social e a área de tecnologia. Foi essa necessidade que motivou um grupo de desenvolvedores de software a se reunirem em 2001 para conversarem sobre seus desafios, reflexões e inspirações como a filosofia lean, baseada no sistema de produção da montadora Toyota. Dessa reunião surgiu o Manifesto Ágil, reproduzido a seguir:
Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo. Através deste trabalho, passamos a valorizar:
- Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas
- Software em funcionamento mais que documentação abrangente
- Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
- Responder a mudanças mais que seguir um plano
Ou seja, mesmo havendo valor nos itens à direita, valorizamos mais os itens à esquerda.
Fonte: Manifesto Ágil
A preocupação do Manifesto Ágil com uma gestão de projetos mais humanizada e receptiva a mudanças, que entenda a efetividade e a colaboração entre os seus valores, mudou a forma de trabalhar na indústria de tecnologia nas últimas duas décadas. A mentalidade ágil passou a ser conhecida em outros setores e sua influência se estendeu para outras áreas com a digitalização de boa parte da economia. O uso e a discussão sobre os projetos ágeis no desenvolvimento social passou a ser eminente.
A seguir: a gestão de projetos ágeis no desenvolvimento social e ambiental
Trazer a mentalidade ágil para a prática pode ser desafiador. Mais do que propor termos novos como “cerimônias”, “artefatos” e “papéis”, modificar uma cultura é bem mais difícil do que escrever este texto – falando por experiência própria. Mas gerentes de projeto são agentes de mudança por natureza e estamos aqui para contribuir com o processo. Nas próximas semanas, a vai continuar explorar os projetos ágeis no desenvolvimento social e ambiental. Venha com a gente 😉
PM4R do BID: um guia para gestão de projetos ágeis no desenvolvimento socioambiental
O Project Management for Results (PM4R) é um Guia desenvolvido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (o BID), especialmente pensado para aumentar os resultados de projetos do campo do desenvolvimento social. há duas versões da abordagem: a versão tradicional e a versão ágil. usaremos como referência o PM4R Agile como referência bibliográfica sobre o desenvolvimento ágil de projetos no campo social,
cuja versão em português ainda não está disponível em espanhol e em inglês.
Você pode baixar o Guia do BID colocando seu nome e email no formulário abaixo. Você será redirecionado diretamente para o Guia.
Gostou deste texto?
Esperamos que tenham gostado deste material. Ele foi escrito com base em trabalhos já desenvolvidos pela Rede Tekoha, mas compilado e todo organizado pelo nosso guru técnico e parte da nossa equipe Marcio Pires.