Se você chegou neste post por um caminho direto da internet, avisamos: ele o segundo de uma série de três. No atual post falaremos sobre o levantamento de dados para avaliação de projetos de impacto. Ele é a continuação do post que explicamos o que entendemos por Avaliação de Impacto de um Projeto.
No post anterior, falamos sobre como avaliações de impacto devem considerar um ambiente complexo e também sobre relações de causalidade entre ações e resultados. Falamos sobre isso para explicar que uma avaliação de impacto bem feita deve mostrar, na medida do possível, a direta relação de causa e efeito entre ação e resultado esperado (monitorado e avaliado).
Sendo novamente didáticos, voltamos ao exemplo da capacitação dada no projeto hipotético do post anterior: Imagine que no projeto hipotético citado, as aulas da capacitação eram sobre como gerir pequenos negócios e os alunos eram micro empreendedores.
A lógica hipotética por trás de capacitá-los é que, no momento em que eles têm maior e melhor acesso a conhecimentos sobre gestão, vão gerir melhor seus negócios e, por lógica, venderão mais, gerando mais renda para si próprios.
Assim, o aumento na geração de renda per capta, imagina-se, que levará à melhoria da qualidade de vida destes micro e pequenos empreendedores.
Pois bem, imagine também que, garantidamente, mensuradamente e indubitavelmente:
- todos os empreendedores frequentaram todas as aulas;
- o curso foi muito bem avaliado;
- o facilitador era incrível;
- a metodologia era milagrosa; e
- todos saíram das aulas sabendo gerir suas finanças pessoais e profissionais.
Com todos estes dados para a avaliação de impacto do projeto, acreditamos que podemos chegar à obvia conclusão de que que estes micro empreendedores, em questão de algum tempo terão suas rendas acrescidas. Correto?
Também vamos supor que sabíamos e que tínhamos dados com a comprovação exata de que a média de renda destes micro empreendedores quando começaram as aulas era R$1.000 mensais.
Depois de um ano, a equipe de uma consultoria foi contratada para fazer a medição de impacto. Entraram em contato com cada um dos ex alunos e levantaram os dados para a avaliação do projeto e constataram que a média de renda mensal deles, passou a ser R$1.500 – descontada a inflação.
Houve um aumento real médio de 50% na renda dos participantes da capacitação. Qual conclusão tiramos?
A capacitação de micro empreendedores foi capaz de aumentar em 50% a renda média dos participantes e portanto melhorar a qualidade de vida deles.
— O sucesso do projeto foi confirmado!
— Ou não…
— Por que não?
— Temos como negar que renda aumentou em 50%?
— Não! É um fato. Os dados para avaliação de impacto do projeto foram levantados. Foi feita uma mensuração criteriosa e o dado é verdadeiro.
— Muito bem. Fazemos agora algumas perguntas:
- Foi perguntada a origem desta nova renda média?
- O entrevistado ainda está empreendendo? – ou seja, este aumento de renda ainda vem diretamente da prática empreendedora, ou por acaso, ele encontrou um emprego?
- Foram levantadas as hipóteses de ter ocorrido algum tipo de evento específico – independente do empreendedor – que possa ter impulsionado o negócio dele no último ano?
Exemplos: aumento de turismo onde ele trabalha, um incentivo municipal, como a instituição de uma nova feira de rua, uma queda de preços de matéria prima que permitiu que os preços baixassem, um aumento repentino no número de compradores.
Todos estes (e muitos outros!) questionamentos devem ser levados em consideração antes de afirmar categoricamente que existe uma relação causal entre a capacitação e o aumento da renda dos entrevistados. Deve-se refletir muito antes de se levantar os dados para avaliação de impacto do projeto.
No próximo post, vamos falar sobre o que mais, além de dados é necessário para avaliar um projeto de impacto social ou ambiental.
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