A entrevistada deste episódio foi a Roberta Procópio. Ela trabalha no Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental que começou sua história no Cinturão Verde de São Paulo e nesta entrevista conta sobre seu trabalho no Lab Amazônia, como um dos atores no projeto que desenvolve soluções para comercializar produtos da sociobiodiversidade da Amazônia. Ouça este episódio junto com o episódio da Climate Ventures – eles são episódios irmãos! 🙂
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais. Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo para a nossa conversa de hoje na jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais. Eu sou o Márcio Pires, falando pela Rede Tekoha, e esta conversa é parte de uma série de papos com quem atua na gestão de projetos socioambientais no Brasil neste ano tão desafiador que é 2020.
Vamos juntos mais uma vez, mergulhar nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental, e hoje assim como no episódio anterior eu vou fazer um convite especial para você que está ouvindo do nosso PQPS! Talks esse episódio conversa com um outro episódio desta mesma série. Nós escolhemos dois projetos que trabalham em conjunto e em cada uma das conversas nós vamos falar sobre cada um deles, ou seja, você que se interessa por projetos socioambientais vai conseguir ter uma visão de como dois projetos que são independentes entre si podem se tocar em alguns momentos. A gente com isso vai tentar criar uma referência relevante e consistente para quem causa impacto positivo por meio de projetos. Então fica assim, neste episódio de hoje a conversa com o Instituto Auá de empreendedorismo socioambiental que tem um papel bem importante na comercialização do Lab Amazônia, o projeto que é tema do episódio irmão dessa conversa. E o nosso convite que fica é: Depois de ouvir essa entrevista você dá uma olhada no site www.aupa.com.br/pqps que lá você vai encontrar um link do episódio com o Instituto Climate Ventures. Eu te aconselho a ouvir os dois para que a sua experiência seja mais rica. Então sem mais delongas o convite para entrar na nossa roda que hoje vai para Roberta Procópio do instituto Auá de empreendedorismo socioambiental que existe com esse nome desde 2014, mas que tem uma história que começou lá em 1997 no cinturão verde aqui de São Paulo. Roberta é um prazer enorme falar, com você está?
Roberta
Olá Márcio, olá a todos. Bom dia. Obrigada por poder participar dessa experiência incrível que é o PQPS! E poder compartilhar com todos essa nossa história. Bom, meu nome é Roberta, estou bem, obrigada. Trabalho com economia solidária projetos voltados à comercialização de produtos do terceiro setor e geração de trabalho e renda aproximadamente 14 anos e o instituto Auá está muito feliz em poder participar também. Falo em nome de todos aqui da equipe.
Márcio
Maravilha. O instituto Auá também está envolvido no desafio de logística e comercialização da sociobiodiversidade da Amazônia que é o Lab Amazônia. Qual é o papel do Auá nisso? Roberta conta para gente como que aconteceu a coordenação de três parceiros neste projeto e quais são os parceiros?
Roberta
Eu sou a gestora comercial do Instituto Auá e faço também a gestão comercial focada no B2B do Lab e atuo também na execução de vendas e prospecção de mercado e oportunidade de negócios. Como que isso aconteceu? Eu sou integrante do Auá. Em 2019 foi realizado um Lab, onde surgiram sete protótipos que respondiam a alguns gargalos estruturais identificados no Lab anterior. E buscaram ajudar a inovações nos meios de trazer cargas da Amazônia para São Paulo. Eu participei da elaboração de um desses protótipos. Na época eu estava em outra organização, mas com a felinamento desses protótipos a gente identificou no Auá um possível parceiro e conseguimos fazer a fusão. Os protótipos priorizados na época era o Sóciobiology que era inovação e soluções lógicas, o CDzão que era um protótipo para armazenamento compartilhado e vendas em São Paulo, a plataforma Biobá que era uma conexão de produção de várias iniciativas de comercialização, uma plataforma online e a marca Amazônia que tinha um conceito de marca na região, bland com foco em WM, e a SnapseBioprograma. Desses vários protótipos, três deles se fundiram que foi o Sociobiology o CDzão e a plataforma Biobá. Então organizamos um piloto com o nome inicial de bloco de acesso ao mercado e reuniu três organizações. Essas três organizações eram a Amazônia Hub que era uma plataforma B2C, a Biobá que seria uma plataforma para a centralização de serviços e produtos e o Instituto Auá, que fazia a locação de espaço, armazenagem, a montagem de cestas e alguns serviços integrados de logística. E selecionamos dez empreendimentos amazônicos para fazer parte desse protótipo. A princípio começou assim, logo somaram-se dois atores de peso para a gente atingir esse objetivo e dar a possibilidade de escala para o piloto. Foi o Mercado Livre que apoiou a gente e deu visibilidade e outra parte foi o Costa Brasil que é um operador logístico multimodal. Então iniciamos a reestruturação do modelo piloto para o modelo do movimento Amazônia em casa a floresta em pé, que é o estágio que estamos agora.
Márcio
E quando vocês apresentaram o projeto para participar do PQPS! Vocês mencionaram que a curto e médio prazo a coisa mais importante de acontecer seria captar parceiros comerciais que fomentar a comercialização dos produtos. O que era considerado para vocês o curto, o médio e o longo prazo? E qual é o tempo total previsto para o projeto acontecer?
Roberta
A ideia era acessar mercado e terá apoio comercial de parceiros como aconteceu com Mercado Livre, com a Costa Brasil e existem algumas outras possibilidades. Porque é muito gostoso para esses empreendimentos que estão no extremo, estão lá na Amazônia trazer os produtos para cá e se tornarem competitivos, porque eles produzem em pequena escala. Então, como parcerias comerciais como é o caso da Costa e do Mercado Livre, você acaba tendo condições diferenciadas que proporcionam uma competitividade perante ao restante do mercado. A nossa ideia é tornar esses empreendimentos competitivos. Então é buscar parcerias e otimizar o que tiver de custos, a gente busca fazer a venda pulverizada dos produtos. Então é possível acessar o maior número possível de pontos de vendas, mas a gente também precisa trazer visibilidade para esses produtores, trazer visibilidade para o processo que esses produtos são feitos e trazer visibilidade para a proposta de manter a floresta em pé e o que esse consumo consciente representa. A gente precisa de quem já esteja no mercado, a gente precisa de parceiros que já tenham Know how que já tenho consolidado as suas marcas para levar a nossa história adiante. Então a ideia seria o nosso protótipo, nosso projeto de curto e médio prazo, seria entre 6 e 18 meses para ele deslanchar. Hoje a gente está entrando na metade desse processo, estamos exatamente na metade.
Márcio
Então, se você está pensando para o processo inteiro para o segundo semestre deste ano?
Roberta
Isso. Nós temos um projeto para até o final deste ano continuar com esses esforços, com essa galera que está conosco e buscando parcerias. A ideia é buscar parcerias que mantenham essa ideia da Amazônia em casa Floresta em pé.
Márcio
Quando vocês dizem: “Acho que o mais importante a curto e médio prazo seria captar os parceiros comerciais que fomentassem a comercialização dos produtos”. Por que vocês acreditam nisso?
Roberta
O mercado é muito competitivo e nós somos só um pontinho desse universo. Nosso público são pequenos produtores que estão em regiões difíceis, que tem um desafio da distância, tem o desafio da região geográfica. Muitos são ribeirinhos, muito estão em extremos. É outra realidade. Então essa parceria comercial, esses parceiros comerciais eles ajudam a potencializar o nosso resultado levando a nossa história e conscientizando aquele consumo que ele representa na cadeia de valor do produto. Não é só mais um produto, não é só mais uma história. É uma história que envolve aquele produtor e que envolve a floresta também, então tem todo um engajamento na causa. E o que a gente precisa não é uma questão de assistencialismo, não é isso, são parceiros realmente comerciais que queiram fazer o produto agir, que queiram profissionalizar esse produtor, assessorar mesmo para que ele se torne competitivo. E sim, ele tem autonomia e automação em seus processos.
Márcio
Maravilha. No episódio de hoje do PQPS! talks este podcasts faz parte da jornada PQPS! A gente tem a presença da Roberta Procópio do Instituto Auá de empreendedorismo socioambiental e a gente como sempre faz um link entre as experiências que as pessoas trazem para as conversas e os conceitos de gestão de projetos. Roberta como um dos encontros da nossa jornada é focado na fase de encerramento de projeto que eu queria escutar um pouco de você sobre isso usando a suas vivências atuais que você está trazendo aqui. Do ponto de vista do projeto, por que você acha que era importante profissionalizar os empreendedores de modo que eles prosseguissem o trabalho com automação, pensando no final do projeto formal?
Roberta
É importante para esses produtores para eles otimizarem seus processos, eles terem autonomia e independência na produção e comercialização desses produtos, assim eles teriam a condições de trazer em produtos mais competitivos. Uma outra questão é que eles acabam tendo outras possibilidades e não ficou refém de atravessadores e podem inovar, podem desenvolver produtos, adaptar às necessidades de mercado mantendo uma extração consciente da floresta, mantendo a preservação da floresta, trazendo da floresta seu sustento, mas de uma forma competitiva. Além de poder dar oportunidade para outros empreendimentos menos amadurecidos de poder fazer parte de algum outro projeto nesse sentido. Então é uma engrenagem, aquele produtor entra, ele se capacita, ele se profissionaliza, ele ganha automação, autonomia e ele segue. Ele dá um lugar para um outro empreendimento um pouco menos capacitado que entra no processo, aprende, otimiza, toma posse daquilo que é útil para a vida do negócio dele e ele vai para frente e assim todos fazem parte de um movimento, que essa iniciativa de conservação da floresta e comercialização desses produtos. Ele utiliza os benefícios que tem neste projeto, utiliza dessas parcerias comerciais, ele faz parte da divulgação, ele faz parte da visibilidade que é essa iniciativa e assim ele potencializa os seus resultados. Então com o tempo a gente vai pulverizando, a gente vai multiplicando isso.
Márcio
Vocês atuam neste projeto pelo movimento Amazônia em casa floresta em pé. Quais são as ações de geração de trabalho e renda para que a cadeia produtiva tenha um valor agregado? Ou colocando de outra forma já que a gente está falando sobre o planejamento de encerramento. Como vocês sabem ou não sabem que no final do projeto as ações estarão ou não estarão agregando valor à cadeia produtiva?
Roberta
Nós temos vários índices de mensuração ao longo de todo o processo, além de ter as premissas para o empreendimento fazer parte do protótipo, nós temos várias organizações que acompanham e fazem a rastreabilidade do produto, bem como garantem a origem do mesmo. E esses índices vão desde a produção até o resultado final, acompanhar a geração e a criação de oportunidades, crescimento do empreendimento, faturamento e o mais importante é saber que o produto que foi produzido na floresta de forma sustentável chegou a mesa de uma ou mais pessoas, enfim, chegou a várias partes do país de forma justa, sem atravessadores e sem explorador a ponta. Então é feito algumas mensurações ao longo, durante todo o processo e isso é feito uma relatoria passado por diversos apoiadores da ação. Também faz parte da estratégia, a gente vai mensurando e a partir dessa mensuração a gente vai definindo o norte do projeto.
Márcio
É super interessante o que você está colocando, por que você acaba fazendo um link entre diversos conceitos que a gente foi conversando durante a jornada. Você está falando de mensuração, ou seja, de monitoramento, avaliação de encerramento, mas tudo isso nasce de um planejamento que você faz no início e obviamente planejamento não é algo fechado, é algo que você vai atualizando conforme você vai aprendendo com o projeto. Não é?
Roberta
Exatamente.
Márcio
Maravilha. Roberta a gente vai chegando ao final da conversa e com isso eu vou propor aquele velho desafio, aquela nossa reflexão de todo fim de episódio onde a gente pede para todas as pessoas entrevistadas. Se você pudesse pedir para alguém da nossa audiência te responder que é que você perguntaria sobre o seu próprio trabalho? Qual que é aquele desafio que você vive hoje que você gostaria de ouvir alguém te dando uma luz a respeito dele?
Roberta
Eu acho que as perguntas são muitas, os desafios são muitos, mas eu acho que para a gente que está aqui, para mim principalmente eu acho que a principal pergunta hoje, a principal angústia é conseguir entender como que eu faço para trazer para realidade das nossas casas esses produtos da floresta? Como torná-los mais visíveis junto com o conceito, junto com a cadeia de valor em meio a tantos outros produtos que existem hoje ofertados no mercado? Como chamar a atenção do consumidor? Esse é o nosso grande desafio, porque é muito competitivo, apesar de existirem muitas iniciativas tanto de consumo, como de oferta, buscando esse produto com origem mais sustentável ainda uma grande dificuldade. Como trazer esses produtos da floresta, esses produtos de origem com uma visibilidade maior para dentro de nossas casas.
Márcio
Roberta muito obrigado por trazer esse material e por compartilhar com o PQPS! Talks o registro do seu trabalho no campo socioambiental brasileiro de 2020.
Roberta
Eu agradeço a todos, está sendo uma experiência incrível. Nós Instituto Auá mandamos um grande beijo para todos.
Márcio
Maravilha, aliás, acho que eu falei em 2020 e a gente já está em 2021.
Roberta
2021 verdade! (risos)
Márcio
A gente termina mais um PQPS! Talks e convida você a procurar o episódio com o Instituto Climate Ventures no site www.aupa.com.br/pqps para saber o outro lado do trabalho que foi falado aqui . A Jornada PQPS! Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais continua nos nossos outros podcasts deste ciclo. Logo mais tem mais. Até!
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.