Neste episódio extra e especial da série PQPS!Talks convidamos o Márcio Jappe da Semente Negócios para correlacionar estágios de desenvolvimento de startups com a experiência de gestão de projetos de negócios de impacto socioambiental. As representantes do Polo ANDE Brasil, da ABRA Arquitetura e da AFABEV – Associação dos Agricultores Familiares de Bela Vista de Goiás ajudam a construir essas conexões!
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais. Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo para a nossa conversa de hoje na jornada PQPS Talks, o podcasts da jornada PQPS! Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais. Eu sou o Márcio Pires, falando pela Rede Tekoha, e esta conversa faz parte de uma série de várias outras, a gente já gravou na verdade quase 20 episódios nesta temporada com quem atua na linha de frente da gestão de projetos socioambiental no Brasil. Então mais uma vez vamos juntos mais uma vez, mergulhar nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental.
Hoje o nosso encontro é um formato diferente, é mais longo, é uma conversa mais do que especial, porque hoje temos nada menos do que três organizações que participaram desta edição da jornada PQPS! Eu já vou contar quem são, mas para conversar com essas três organizações a gente tem um convidado muito especial, o meu xará, Márcio Jappe, sócio fundador da Semente Negócios. A semente acredita na inovação como uma ferramenta para promoção de prosperidade e valorização da vida, e é por isso que a Semente trabalha desenvolvendo competências de inovação com pessoas empreendedoras e suas iniciativas inovadoras, além de grandes empresas e de outras organizações. O Márcio já passou pelo banco real, pela Mackenzie, pela Artemísia, enfim, ele tem uma carreira reconhecida no campo de desenvolvimento socioambiental, e por isso tudo, ninguém melhor do que ele próprio para se apresentar. Conta mais para a gente, Marcio, tudo bom com você?
Márcio Jappe
Tudo bem, Márcio é um prazer está aqui, muito obrigado pelo convite. Acho que você já fez 144 Caracteres bem legal sobre minha trajetória, acho que o aspecto a salientar é sempre essa busca pela combinação de um trabalho que fosse intelectualmente desafiador, mas que tivesse um impacto positivo relevante para o mundo. Então, acho que as diferentes organizações e os estágios que eu passei fez refletir este desejo. E hoje a semente ela reflete isso, essa ideia de que a gente pode trabalhar com o que há de mais moderno e vanguardista em inovação com um olhar muito focado em gerar prosperidade e fazer coisas que são positivas para o mundo. Este sou eu, esta é a minha empresa, enfim, a gente vai aqui para o papo e trabalhando essa temática.
Márcio
A primeira questão que eu queria que você trouxesse para nossa roda de conversa é sobre os estágios de desenvolvimento de startups, até tem um post no blog da Semente Negócio que fala sobre os momentos da idéia, do teste solução e do produto, que eu vou te pedir licença e chamar aqui de operação só para reforçar que a gente está falando não só de produtos físicos como de serviços intangíveis, que muitas vezes são o foco da atuação de muitas organizações. Então eu queria que você contasse um pouquinho para gente sobre isso.
Márcio Jappe
Eu vou fazer um pequeno parêntese para situar quando eu falo dos estágios de desenvolvimento, primeiro entendendo o que é inovação. O que eu entendo por inovação é resolver problemas reais com soluções de mercado em contextos com altos níveis de incerteza. Quando a gente fala de startups, e a gente está falando, enfim, de inovar é estar no meio da incerteza. Startups são organizações temporárias que estão em busca de um modelo de negócio viável. Quando a gente fala modelo de negócio, quer dizer que qualquer organização tem um modelo de negócio, que é como uma organização cria, entrega e captura valor. Então quando a gente está falando dos estágios de desenvolvimento de um startup, a gente está falando necessariamente de período de bastante incerteza e diminuindo essas incertezas, porque quando você encontrar um modelo você já não é mais um startup, você é uma organização, enfim, em um outro estágio de desenvolvimento. Todo esse discurso era para falar dos três estágios de forma mais ampla onde entendemos que existe um estágio inicial de ideia, onde a coisa está abstrata na mente ou até quiçá no papel, mas pela minha experiência papel aceita qualquer coisa que a gente escrever. Então na verdade o estágio de idéias é onde você tem uma série de hipóteses que você precisa validar. Precisa validar hipóteses sobre qual o problema que você está resolvendo, sobre qual é o público que você está atendendo, sobre como vai funcionar uma potencial solução, enfim, esse é o estágio inicial. O segundo estágio é quando a gente já começa a tocar e fazer testes de solução. Então, uma vez que a gente minimamente validou o problema estamos resolvendo, precisamos entender se a gente tem uma solução para aquele problema, e se a gente consegue fazer com que essa solução efetivamente resolva o problema. O terceiro estágio, já é um estágio de produto, a gente tem um problema, tem uma solução que resolve esse problema, mas essa solução precisa ter um mercado para ela. Então preciso de um produto que possa permitir que aquela organização capture valor. Eu acho que é importante entender que a gente também tem vezes onde a gente vai poder solucionar de um jeito e capturar valor de outro. Por exemplo, mesmo o Google tem dois públicos diferentes, aquele que usa a ferramenta que o problema resolvido é achar as coisas rápido na internet, mas o público que gera receita efetivamente é o público pagante, ou seja, que paga pelas informações e pela atenção dessas pessoas que fazem buscas. Enfim, toda essa volta que eu dei foi para falar que a gente pode resumir em um estágio de idéia, um estágio de teste de solução e um estágio de teste de produto e mercado.
Márcio
Obrigado Márcio.
Agora eu apresento as três organizações de hoje, que são: Ande, ABRA e AFABEV. E um dos motivos pelos quais a gente escolheu essas organizações é justamente porque elas estão em estágios diferentes de desenvolvimento e possuem modelos e financiamentos diferentes. Eu quero escutar um olá de cada uma e ouvir em qual estágio que ela se encontra dentro desse quadro que o Márcio apresentou. A primeira organização que chamamos para a nossa roda é a Ande Aspen Network of Development Entrepreneurs e se você ainda não ouviu o episódio com a Ande, ainda dá tempo de ir no site da Aipa acompanhar a entrevista com essa que é uma rede global de organizações e que impulsiona o empreendedorismo em países emergentes. A Ande é uma organização da sociedade civil que gera receita que já passou por aqui com a Rebeca Yoshisato que está de volta. Tudo bom Rebeca? Fala um pouco sobre o formato de vocês, como que vocês geram receita e em qual estágio de desenvolvimento estão de acordo com o que ouvimos do Márcio.
Rebeca
Bom dia, boa tarde, boa noite para todo mundo que vai ouvir este podcast. Márcio obrigada pela apresentação. A Ande é uma rede global de membros, a gente tem membros espalhados em todos os continentes, mais de duzentos e noventa membros que fazem parte da nossa rede. A Ande é uma associação, então as pessoas pagam uma taxa associativa para fazer parte da nossa organização, parte da nossa receita vem deste formato e a outra vem muito da captação de recursos, a gente tem mais uma equipe global focada para captar recursos para projetos e planos que a Ande tem. E sobre o nosso estágio, acho que apesar de a gente ser uma associação, às vezes a gente não enxerga uma associação como um startup, eu vejo a Ande em um estágio mais final, a gente já entendeu o que estamos fazendo, já definiu mais ou menos onde queremos quer fazer e onde podemos atuar. Então acho que a Ande é uma organização mais madura.
Márcio
Nossa segunda organização de hoje também já foi entrevistada em um episódio do PQPS! Talks é a ABRA arquitetura e se você ainda vai ouvir o episódio da ABRA eu já te adianto um pouquinho, que ela é um negócio social que atua no Recife na sua região metropolitana, foco nas classes C e D e objetivo da ABRA é melhorar as condições de moradia de famílias de baixa renda, tendo acompanhamento técnico desde a concepção dos projetos até a entrega da obra. A gente fala com a Samille Silva. Vocês na ABRA trabalham com formato diferente em relação a Ande, vocês trabalham com o formato do negócio social, mas sem restrição da distribuição de dividendo. Conta para gente se é isso mesmo e fala qual é o estágio de desenvolvimento que vocês se veem hoje.
Samille
Olá pessoal é um prazer novamente está aqui, como o Márcio apresentou, obrigada mais uma vez, nós somos um negócio social e a gente já atua há um tempo, mas sempre modelando e sempre voltando diante das necessidades e das dificuldades que a gente encontrou ao longo de toda a trajetória do ABRA, mas hoje está rodando o nosso produto principal que é o pacote de reformas, são os kits de reformas que é a nossa receita principal. A gente não tem restrição de dividendos, mas a gente sempre procura reinvestir no negócio. A gente está hoje no estádio três. A gente já conseguiu chegar onde a gente queria, desde a idéia do ABRA principal, que é vender os pacotes das reformas para essas famílias de baixa renda, sabe que hoje a gente sabe que a porcentagem de pessoas que procuram assistência técnica para esse público é muito difícil. A autoconstrução que existe hoje e a porcentagem de pessoas que têm assistência técnica é muito pouco. Hoje a gente já vende as reformas e tem esse desafio de estar sempre modelando. Então a gente está no estágio três porque estamos sempre pensando em como melhorar. A gente já sabe que funciona, já sabe que vende e que a necessidade deles é ter tudo incluso, desde a concepção do projeto até a entrega da reforma, mas tem alguns desafios ainda no meio do caminho que a gente precisa melhorar e a gente está sempre pedindo feedback dos nossos clientes. Quando eu falo de desafios é que hoje opera com financiamento facilitado de acordo com o perfil de cada morador. A gente tem a assinatura de contrato online, análise de crédito rápido que sai em média em dois dias e o desafio que a gente tem interno que é ter projetos mais enxutos. Então a gente está sempre entregando e tentando ver quais são os problemas que a gente encontra para poder melhorar sempre na próxima venda.
Márcio
De Pernambuco a gente vai para Goiás, que é a nossa terceira de hoje que faz sua estreia aqui no PQPS! Talks, a gente dá boas vindas para o pessoal da Associação dos Agricultores Familiares de Bela Vista de Goiás a ALFABEV.
A ALFABEV é uma iniciativa que já tem dois anos e que no início da pandemia criou o delivery da agricultura familiar que envolve dezesseis famílias que estimulam o consumo consciente de alimentos que saem direto da terra para a mesa. A ALFABEV bem representada pela Ihasminy Teixeira e ela trabalha no terceiro formato, a gente estava falando hoje pela manhã de uma possibilidade de se tornar cooperativa, mas vai se manter como associação e tem uma novidade também, tem uma empresa junto. Ihasminy como você está? E me conta qual é o formato que vocês estão buscando neste momento e qual é o estágio de desenvolvimento que vocês se veem.
Ihasminy
Olá, primeiro muito obrigada pelo convite de participar aqui com vocês. Então a gente começou a associação sem saber direito como poderíamos ser contribuição para os pequenos produtores. Através da prefeitura, enfim, dos órgãos públicos a gente teve muitos incentivos em relação a custos, só que depois os produtores não conseguiam escoar suas produções para além da feira, que muitas vezes tem uma competição muito desleal, em vista que na féria tem todos os tipos de produtos e produtores. Então a gente separou os produtores da agricultura familiar que produzem de forma agroecológica, a gente estava criando um projeto de conexão da cidade com o campo, quando começou a pandemia e a gente foi meio que empurrado a fazer o delivery, o que não foi ruim, foi uma coisa muito bom, porque a gente começou a criar coragem para ir para a cidade e conectar com as pessoas que queriam comprar direto do produtor alimentos agroecológicos e orgânicos. Passado todo esse ano, esta semana inclusive faz um ano que a gente começou o delivery e muita coisa mudou. A gente pensou na possibilidade de transformar a associação em uma cooperativa. Inclusive hoje nós batemos o martelo fechando uma reunião onde nós não vamos transformar em cooperativo porque os produtores estão no campo produzindo, eles não têm condições de participar de outras formas, a não ser as que eles já participam mesmo que seja a de produção. Então isso ia dar muito trabalho e a gente decidiu manter a associação e a empresa prestadora de serviço vai fazer toda a logística que a gente estava fazendo. Mas como estava tudo muito misturado a gente estava numa fase de teste. E agora a gente passa a validar esse produto e fazer realmente essa conexão de uma forma muito mais consciente e abrangente. A gente aumenta a capacidade de entrega, aumenta a nossa frota de rotas para poder entregar também. Então nós estamos neste momento numa transição para validar realmente esse produto no mercado e abrir outras possibilidades de conexão das pessoas com o campo para além do consumo. Então a gente deseja que em breve a gente possa colocar mais ainda a cara do produtor em cada produto que a gente entrega e que essas pessoas futuramente, se Deus quiser, passando esse pico da pandemia possam até vir e ser a própria fiscalizadora de como aquele produto que está sendo produzido, se é realmente Agroecológico como que essas famílias vivem e como elas estão agregando valores para essas famílias. Nosso objetivo principal é resgatar a dignidade do pequeno produtor da agricultura familiar.
Márcio
Perfeito Ihasminy.
Márcio, como é que você vê dentro da sua atuação com educação empreendedora o papel de projetos nos negócios que apoiam? Porque quando você falou sobre estágio de desenvolvimento, pensei nos conceitos de gestão de projetos que a gente sempre trabalhou aqui na jornada PQPS! E muitos pontos de planejamento, agilidade para uma adaptação rápida, pragmatismo de não se deixar apaixonar por uma solução que em um primeiro momento para aparecer algo pronto. São questões que aparecem tanto na gestão de projetos quanto no desenvolvimento de produtos ou serviços. Eu tenho em um território de conceitos em comum. Dá para fazer este paralelo também na educação empreendedora?
Márcio Jappe
Sim, eu estava aqui refletindo, enfim, eu falei lá de inovação até para poder criar um gancho para depois e veio logo a oportunidade. Quando a gente fala de inovação, novamente a gente está falando de resolver problemas reais com soluções de mercado em contexto de alto níveis de incerteza. Quando você fala de gestão e planejamento, agilidade para adaptação, a gente está falando de um método que é cientifico, de pensar e planejar de acordo com o conhecimento que você tem e ao longo do tempo à medida que você executa, você vai ganhando mais conhecimento e ajustando a sua execução aquele conhecimento adquirido. Quando a gente fala no campo de inovação, em especial em startups, a gente está falando de uma velocidade ainda maior e de um campo de muitas incertezas. Então é quase impossível a gente trabalhar com a com coisas rígidas e sem uma agilidade e uma capacidade de adaptação porque a gente está por definição reduzindo incertezas ao longo do tempo. Um outro aspecto que está relacionado a desenvolvimento e teste é que a paixão, essa coisa de você chegar com uma solução pronta ou se apaixonado pela solução, é quando a gente fala de inovação a gente está falando muito mais que o empreendedor tem que ser apaixonado pelo problema que ele vai resolver e não pela solução que ele está propondo, porque caso contrário a obsessão por uma solução específica vai fazer com que você feche os olhos para olhar para aqui aquilo e ver como aquilo pode ser adaptado ao longo do tempo. Eu diria que é necessária muita genialidade para que a gente acerte uma solução inovadora para um problema de primeira. Então você precisa ser muito genial, só que, ou você é muito genial ou você está sendo teimoso porque não está olhando a solução. Na média no mundo a gente tem mais pessoas teimosas do que gênios. Então, fica a dica, se você fica muito obcecado pela solução específica que você está propondo e sem ter um olhar claro para qual é o problema que você está resolvendo e como se adaptar a isso, talvez quiçá você esteja indo mais para o caminho da teimosia do que da genialidade.
Márcio
É o tipo de perigo que passa pela cabeça de todo mundo, em algum momento todo mundo acaba agarrando amor no projeto.
Márcio Jappe
Esse nível também é muito difícil, porque empreender também é uma coisa que demanda um certo nível, eu vou chamar de paixão para não dizer na loucura. A gente precisa de um certo nível de loucura e teimosia para fazer avançar frente às dificuldades e saber o ponto ótimo entre o que é persistência e resiliência e o que a pura e simples teimosia é muito limítrofe, é muito tênue a linha que separa os dois. Então eu não quero colocar de uma maneira como se fosse simples ou fácil, é um caminho tortuoso que vai fazer com que a gente se depare por inúmeros desafios no caminho, enfim, a gente ser ter um olhar cuidadoso para saber o que é uma coisa que é outra.
Márcio
Depois vou até voltar nesse assunto e vou querer saber que você quando que a gente consegue perceber, se é que a gente consegue receber alguns pontos de mudanças, mas antes eu queria perguntar para as nossas organizações convidadas, a gente queria saber da Ande, da ALFABEV e da ABRA um momento delas que ficou claro que onde tem inovação tem projeto, esse bordão é bem didático, onde tem inovação tem projeto. Qual foi o projeto que criou um produto, um processo, um modelo de negócio ou mexeu na estratégia da organização onde vocês atuam. Começando com a Ande, você compartilha com a gente Rebeca?
Rebeca
A Ande em 2019 passou por um processo bastante importante depois de 10 anos de existência que foi repensar o planejamento estratégico que a organização tinha. A Ande tem sede nos Estados Unidos e oito escritórios espalhados em todos os continente, e quando a gente relançou o planejamento estratégico a gente viu que era uma hora de trabalhar com maior foco. Então, como era antes? Cada organização ia decidindo mais ou menos o caminho que ia andando. Em 2019 foi relançado o novo planejamento estratégico da Ande que tem foco em grandes áreas que são: igualdade de gêneros, ação climática e ambiental, trabalho decente e crescimento econômico. Então isso unificou bastante as ações de cada organização, é claro que em suas particularidades, Eu acho que foi importante porque com plano mais definido e uma idéia do que cada escritório está fazendo, isso também ajudou muito a fazer a captação de recursos para a gente poder estabelecer os projetos, uma vez que você tem mais ideia do seu foco, como organização saber que cada está fazendo, a gente tem um time um pouco restrito, então é difícil saber tudo o que todo mundo está fazendo. Se eu for puxar um pouco sobre essa experiência pro Brasil, o Brasil acabou fazendo isso também, então a gente estava meio perdido aqui até 2019, e em uma reunião entre membros e conselho da Ande daqui do Brasil, decidimos que fazia sentido trabalhar alinhado com a estratégia global, isso também permitiria que a gente trouxesse mais projetos globais a nível regional e também trazer um pouco das características para aplicar nos projetos aqui. Isso é o que tenho para compartilhar da Ande.
Márcio
Obrigado Rebeca.
Ihasminy conta a história de um projeto da ALFABEV que criou ou que está criando neste momento algo novo na vida de vocês.
Ihasminy
Foi muito interessante essa pergunta porque a gente acabou de receber um convite para entregar a mandioca para uma cervejaria artesanal, o governo do estado de Goiás lançou um projeto de incentivo para que as cervejarias comprassem do pequeno produtor. Agora a gente está desenvolvendo esse projeto totalmente novo. Com a visibilidade que a gente teve através do delivery, uma cervejaria nos procurou para falar desse projeto, porque quando a gente viu o projeto, achamos que era muito grande para nós pequenos. E essa cervejaria veio atrás da gente e falou: “ Dá para a gente desenvolver o projeto, porque também somos pequenos”. Como é uma cervejaria artesanal aqui da região, eles vão comprar uma quantidade que a gente consegue ofertar. Então isso abriu muitas portas para a gente, porque a mandioca é um alimento muito fácil de produzir. Ele demora, mas para o produtor, ele não tem tanto trabalho, então não atrapalha tanto ele em aumentar essa produção. É um projeto que estamos começando porque a cerveja está começando a inserção no mercado, e conforme a projeção daqui para o final do ano, é deles comprarem uma tonelada por semana e a gente consegue organizar de agora até o final do ano, para iniciar essa produção, enfim, já pegar aqui estava produzindo. Então foi para nós uma experiência muito nova e que abriu horizontes para outros tipos de parcerias entre a associação dos pequenos produtores e empresas privadas.
Márcio
Perfeito obrigado Ihasminy.
Com você, Samille como foi na ABRA? Qual projeto que trouxe ou está trazendo inovação para vocês?
Samille
Hoje o exemplo mais claro e mais recente que a gente tem é esse modelo de operar a venda por meio do crédito para baixa renda. A gente vende as reformas como eu já falei, mas todo morador já tem o crédito aprovado, e o que difere vai ser o limite de crédito disponível para cada perfil que chega para a gente. Então isso é novo para a gente e também é muito novo para o público que atendemos. Em relação a essas demandas que chegam para a gente, porque é um mercado que está se estruturando e surgindo agora, essas reformas a gente atendendo a periferia as comunidades e tal, aparecem muitos estudantes querendo participado do escritório e também muitas instituições e pessoas mais vulneráveis querendo reformar suas residências ou instituições que atuam nas comunidades. A gente teve a ideia de unir os dois. Um modelo que fez bastante sucesso entre os estudantes, mas estamos com dificuldade de voltar a rodar, que é o workshop Desafio ABRA, onde capacitamos os estudantes que se inscrevem para eles elaborarem um projeto para uma instituição ou residência para essas famílias mais vulneráveis que não têm condições de arcar com o custo de um projeto e o orçamento. A gente parou por conta da pandemia, mas é um projeto que a gente tem a intenção de voltar a rodar. Fora isso, diante da pandemia a gente teve insight de ter um modelo de projetos mais acessíveis e online também, as visitas online funcionaram bastante em nossos processos. E em relação ao processo, a gente está operando hoje com os parceiros um modelo de apontamento de obra totalmente automatizado. Então acho que são esses exemplos que eu posso citar de inovação.
Márcio
Obrigado Samille.
Márcio a gente viu que cada organização é única, cada projeto tem suas próprias características, cada está no seu próprio momento, enfim, o contexto nunca é igual. Então como que a gente faz para perceber a mudança de estágio entre a ideia, o teste de hipóteses e a consolidação do poder de negócios, se é que o modelo se consolida no mesmo um dia. Porque não existe uma chavinha que virá o dia e a gente fala assim: “olha até às 18:00 da sexta-feira eu estou no estágio de idéias. Na segunda-feira às 9 da manhã a gente começa o momento de teste. Não é assim. Então a pergunta super fácil que eu te faço é: Como o empreendedor faz para identificar onde e quando está em cada fase?
Márcio Jappe
É uma ótima pergunta. A primeira parte de responder é assim; é um alvo móvel, um modelo nunca se consolida porque o contexto muda, então dado que o contexto muda e mesmo que você ache um modelo ele vai ter uma perenidade que vai depender de adaptá-lo ao longo do tempo, mas o que eu queria salientar, é que quando a gente fala de inovação estamos falando de incerteza e a incerteza é traduzida em um modelo de negócio em risco, e o que a gente faz ao longo do tempo, a gente vai validando os diferentes aspectos daquele modelo para diminuir a incerteza e por consequência diminuir o risco. Só que validar não é sobre ter certeza absoluta sobre as coisas, é muito mais sobre a gente conseguir diminuir o risco até um nível que seja aceitável e tolerável para a gente. Então mais importante do que colocar um carimbo para qual fase cada organização está, é a organização entender qual é o tamanho do risco que ela consegue assumir para ir para a fase seguinte. Então se ela está lá a conceituando a ideia e validando o problema. O que é suficiente para ela ir para o próximo passo é conseguir fazer teste de solução? Qual o tamanho do risco que ela pode assumir? Qual o tamanho do risco financeiro? Qual o tamanho do risco de tempo? Qual é a pressão do tempo? Vamos dizer assim: Qual o tamanho do tombo que ela pode levar e se manter vivo para fazer o movimento e mudar aquele modelo de negócio? Então eu acho que o importante é como o empreendedor consegue identificar onde e quando está em cada fase, na verdade mais importante que isso é empreendedor identificar onde e como ele pode pular de um estágio para outro, porque ele está assumindo o nível de risco que é satisfatório que é tolerável. Obviamente a gente tem métricas, então quando estava listando o problema tem um número de pessoas que sofre aquele problema, você pode fazer teste fumaça, pode fazer entrevistas de validação, pode fazer teste AB, pode fazer “enes” testes específicos, mas trabalhar com isso é muito mais importante, que o empreendedor possa assumir o risco de ir para a próxima etapa que ele está se propondo.
Márcio
Como as situações e os desafios são bem diferentes entre si, as perguntas também vão ter que ser diferentes para cada organização. Primeiro a Ande. Rebeca vocês já estão em um momento mais consolidado, como você colocou, vocês tem uma operação Internacional. Como é o processo de revisão do modelo de vocês? Como vocês enxergam o uso de projetos como um caminho para apoiar nesse processo?
Rebeca
Acho bastante importante porque definir os projetos e os nossos focos, o que a gente quer como organização ajuda a gente nesse planejamento estratégico que definimos há um tempo. Então o projeto, na verdade, é um caminho para a gente alcançar este objetivo maior que definimos em 2019. Claro que em cada organização ele vai variar, em cada escritório regional ele variar com as suas características. Então trazendo um pouco aqui do Brasil, a gente está trabalhando atualmente no projeto pensando igualdade de gêneros e a gente convidou as principais organizações do setor, a gente definiu desafios. O escritório global vai trazer um grande desafio, que é a igualdade de gênero e a gente vai através dos projetos capitalizar isso e fazer alguma coisa que de fato a gente possa ajudar o escritório que a gente está localizado, que é aqui no Brasil.
Márcio
Valeu Rebeca.
Ihasminy quai são os aprendizados dos projetos que podem colaborar para vocês consolidarem o modelo de negócio da ALFABEV e da empresa que está entrando agora para trabalhar com vocês?
Ihasminy
Para a gente abriu muitos horizontes e muitas portas porque como eu também sou uma pequena produtora, a gente sempre se viu sempre muito pequeno, e não conseguia nos inserir. A gente foi empurrado pela pandemia para fazer o delivery e colocar “a cara no sol”. Eu acho que fazer essa troca foi muito importante para a gente se ver um pouco além daquele pequeno produtor que fica ali só na roça. Deu a oportunidade para a gente abrir este horizonte e inspirar. Hoje a gente está buscando outras formas de se organizar, buscando também pessoas para nos ajudar a escrever projetos, porque muitas vezes tirar do campo da ideia e passar para o projeto escrito é bastante desafiador para a gente. Então estamos buscando fazer as coisas mais corretas possíveis, no sentido de ter tudo estruturado. Buscar as estruturas da empresa mesmo, por mais que a gente seja uma associação, somos uma associação que busca levar rentabilidade para os pequenos produtores. E para que isso aconteça a gente precisa ter um mínimo de organização e planejamento, enfim, tudo isso que a gente conseguiu ver aqui nas rodadas do PQPS!
Márcio
Valeu Ihasminy.
Finalizando, Samille como vocês estamos usando a gestão de projetos na ABRA e quais são os aprendizados que surgem?
Samille
Hoje a gente está tentando definir os processos muito bem. Porque tudo acontece muito rápido, e a gente tem esse desafio de ter todos os processos para que todas as pessoas da equipe saibam o fluxo como acontece. E as tomadas de decisões a gente faz muito colaborativa, todo mundo traz, porque cada um tem sua área de atuação, a pessoa que está mais dentro da obra, a pessoa que está mais na parte administrativa e no comercial, então a gente traz muito este olhar mais colaborativo para a gente trazer os olhares e tomar as decisões independentes, sempre com essa troca para crescer e melhorar os processos e com os feedbacks de quem está em campo.
Márcio
Pessoal nós estamos chegando no final da nossa conversa de hoje nesse formato mais longo, diferente de outros podcasts e foi super interessante por ter tanta experiência compartilhada e tantos dos perfis diferentes. Então a gente consegue ver que as vezes muita coisa que acontece conosco de uma forma diferente rola em outros lugares. Foi um prazer receber vocês na nossa roda. Obrigado Rebeca e sucesso para vocês da Ande.
Rebeca
Eu que agradeço o convite de estar aqui, muito obrigada e obrigada por dividir esta conversa com tanta organização interessante.
Márcio
Ihasminy muito obrigado por compartilhar o trabalho da ALFABEV com a gente, muita força para vocês.
Ihasminy
Muito obrigada, eu espero que a gente possa se encontrar em outros lugares. Que a ALFABEV possa crescer. Não é um trabalho muito fácil, é bastante desafiador, mas ter a inspiração de tantas pessoas incríveis como a gente teve aqui traz um fôlego novo para a gente conseguir realizar os nossos objetivos aqui. Gratidão por poder participar com vocês.
Márcio
Samille obrigada, e força para você na ABRA.
Samille
Obrigada Márcio, eu que agradeço de estar mais uma vez e sempre é um prazer e é muito bom sempre ter esta conversa onde a gente sempre aprende algo a mais, obrigada.
Márcio
Márcio obrigado por tudo muito sucesso para vocês na Semente.
Márcio Jappe
Obrigado Márcio. E vou te dizer que se esse formato é mais longo, imagina o curto porque eu tive a sensação de que se passaram dois minutos só aqui escutando tudo que essas mulheres maravilhosas trouxeram para a gente. Eu agradeço bastante, pois essa sensação de que o tempo passou rápido para mim é um sinal muito positivo de que estava aprendendo. Eu curti muito e espero que seja só a primeira de muitas participações, obrigado.
Márcio
Pode deixar porque se depender da gente você não vai embora. Eu admiro muito seu trabalho, eu gosto muito de acompanhar o que você publica, pois sempre agrega muito.
Márcio Jappe
Obrigado.
Márcio
A gente termina este encontro especial dentro do PQPS! Talks. A gente fica por aqui, mas a jornada PQPS! Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais continua nos nossos outros podcasts deste ciclo. Logo mais tem mais. Até!
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.