Entrevista com Victória Bastos D’Araujo do Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. O IDESAM, que em 2020 ganhou o prêmio Melhores ONG como a melhor organização ambiental do país atua na Amazônia desenvolvendo projetos que incentivam a busca por soluções criativas para os desafios dos povos da floresta. Na entrevista a Victória nos conta como um Programa independente da instituição contribui para o impacto amplo da organização e colabora com a sustentabilidade financeira.
Este é um episódio de uma série de casos gravados a partir dos desafios que gestores de projetos de negócios socioambientais brasileiros vivenciam nas suas instituições. Estes gestores compartilharam seus desafios na Jornada PQPS! discutindo suas Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais.
Estes casos foram desenvolvidos e gravados pela equipe da Rede Tekoha. Apoiou na produção dos podcasts a Aupa; na seleção dos casos a ponteAponte, e os recursos vieram da chamada Elos de Impacto realizada pelo ICE.
Transcrição do episódio
Apresentação
Rede Tekoha e Instituto de cidadania empresarial apresentam:
PQPS Perguntas e Questionamentos Sobre Projetos Socioambientais.
Uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no campo de desenvolvimento socioambiental.
Márcio
Bom dia, boa tarde, boa noite.
Seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo para a nossa conversa de hoje na jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais. Eu sou o Márcio Pires, falando pela Rede Tekoha, e esta conversa é parte de uma série de papos com quem atua na gestão de projetos socioambientais no Brasil neste ano tão desafiador que é 2020.
Nós mergulhamos nas vivências de quem faz acontecer o campo de desenvolvimento socioambiental. E a nossa conversa desta edição é a Victória bastos do Idesam, Instituto de conservação e desenvolvimento sustentável da Amazônia. O Idesam atua há mais de 15 anos junto a produtores rurais, comunidades tradicionais, ribeirinhas e indígenas. Já apoiaram ao longo desse período cerca de 5 mil famílias distribuídas em 10 municípios da região. O Idesam foi escolhido como melhor ONG na categoria meio ambiente sustentabilidade e da Região Norte no prêmio melhores ONGs de 2020 e desenvolve projetos que incentivam a busca por soluções criativas para desafios sociais e ambientais que impactam principalmente os povos mais vulneráveis da floresta, desafio mesmo em 2020. Umas das iniciativas desenvolvidas pelo Idesam é o programa carbono neutro o PCN é isso né Victoria? É um prazer conversar com você hoje, tudo bom?
Victória
Oi Márcio, tudo bom, É um prazer conversar com você também. É isso mesmo, hoje a gente vai falar aqui do programa carbono neutro do Idesam.
Márcio
Para começar, conta um pouquinho para a gente sobre o nascimento do projeto e do programa carbono neutro. Quem era o público alvo e principalmente porque o projeto foi desenhado, como que foi, Dê uma geral para a gente.
Victoria
Claro. Então Márcio o programa carbono neutro, ele nasceu em 2010, então este ano a gente está comemorando 10 anos de programa. E ele nasceu primeiro com o objetivo de fazer a neutralização, a carboneutralização que a gente chama, das emissões do próprio Idesam. Então o Idesam já tinha alguns anos de atuação e a gente queria neutralizar nossas emissões de gás carbônico. E a gente criou o programa carbono neutro e ele começou a crescer, então a gente começou também no ano de 2010 ali para o ano de 2011 a abarca alguns clientes que queriam compensar suas emissões de carbono com o plantio de árvores, então a ideia era conectar clientes como pessoas físicas mesmo, pessoas jurídicas, algumas empresas ou algum evento pontual que queriam se responsabilizar pelos impactos que eles causam no planeta, mas especificamente os impactos relacionados as emissões de gases de efeito estufa e conectar essas empresas esses clientes ou essas pessoas físicas mesmos com as florestas. Então na época a gente percebeu lá em 2010 que isso era uma tendência, além do Idesam querer compensar as emissões, outras pessoas e empresas queriam também, a gente percebeu esta demanda e o programa carbono neutro nasceu dessa forma. Então assim, não necessariamente a gente pensou em clientes ou pessoas que já atuam com a floresta igual o Idesam, mas sim conectar essas pessoas. Fazer elas estarem mais próximas da floresta e poderem se responsabilizar pelo impacto em relação as emissões. O nosso público-alvo, então ele era principalmente as pequenas empresas, pessoas físicas e algumas iniciativas pontuais ou instituições e organizações.
Márcio
E a gente estava vendo no material do instituto que vocês têm 6 linhas temáticas de trabalho definadas. Como que são essas linhas?
Victória
Isso Márcio o Idesam ele nasceu para trabalhar com florestas e a gente hoje trabalha com seis linhas temáticas. A gente tem que primeiro o programa de produção rural sustentável que a gente chama o PPRS e a gente trabalha nessa linha com desenvolvimento e manejo de sistemas de produção sustentável na Amazônia. Então prestando basicamente bastante Assessoria Técnica Social e Ambiental a alguns produtores rurais e familiares que a gente trabalha nas comunidades do Estado do Amazonas. Então desenvolvendo as cadeias produtivas nestes locais e atendendo também essas famílias rurais produtoras. A gente tem também como segunda linha o manejo de tecnologias florestais. Então essa é uma linha que o Idesam atua com o manejo florestal como uma ferramenta de conservação e desenvolvimento local para comunidades amazônicas.
Então a gente promove capacitações em manejo florestal, atividades de extensão rural e também bastante desenvolve bastante pesquisa e estudo para analisar e testar melhorias técnicas e práticas do manejo florestal em si. Então esta linha é um pouco mais voltada para a parte técnica do manejo florestal. A gente tem também como uma terceira linha, a linha de atividades conectadas a políticas públicas e advocacia, então o Idesam inicialmente não nasceu com essa linha, mas essa linha foi se desenvolvendo e hoje a gente tem é uma equipe atuando a nível Nacional como o Brasil, local mais no Estado do Amazonas e até também internacional. Então a gente tem uma equipe participando em fóruns, conselhos, comissões, grupos de trabalho se relacionam com cuidado com a floresta e conservação florestal e além de realizar também nessa linha algumas pesquisas de estudos relacionados ao tempo. Como quarta linha, então a gente tem o trabalho em áreas protegidas, a gente desenvolve estudos e projetos em unidade de conservação da Amazônia.
Como quinta linha, a gente tem, a linha um pouco mais recente de novos negócios, então a gente começou a atuar, o Idesam recentemente começou a atuar no fomento a iniciativas de negócios de impacto na Amazônia, então a gente trabalha com oportunidade de financiamento, aceleração de Startup e pequenas empresas que trabalham com bioeconomia na Amazônia por exemplo, e que desenvolvem negócios de impacto. Como sexta linha, que eu deixei para contar no final e a linha e o programa em que eu atuo dentro do Idesam é oprograma de mudanças climáticas e serviços ambientais, então a gente trabalha com desenvolvimento de projetos e soluções inovadoras para mitigação das mudanças climáticas. E eu diria que é aí um pouco que o programa carbono neutro está inserido.
Márcio
Era isso que eu ia te perguntar. Como que o programa carbono neutro se conecta a essas linhas?
Victória
O programa carbono neutro PCN que a gente chama, ele é um programa na verdade independente dessas 6 linhas temáticas que eu acabei de apresentar, mas ele se relaciona muito de perto com o programa de mudanças climáticas. Ele apresenta, o programa carbono neutro, ele é uma solução que a gente encontrou com o foco da neutralização de emissões de gazes de efeito estufa, então ele contribui e acaba contribuindo como impacto direto com a mitigação das mudanças climáticas. Então ele se envolve muito de perto com o programa de mudanças climáticas. Eu diria que agenda dos dois programas, tanto do programa carbono neutro tanto do programa de mudanças climáticas e pagamentos por serviços ambientais, ela se intercala bastante, bem como a equipe e o time envolvido nos dois projetos.
Márcio
Este podcast faz parte da jornada PQPS! A gente conversa com a Victoria Bastos do Idesam Instituto de conservação e desenvolvimento Sustentável da Amazônia. E em nossos encontros da jornada a gente vai fazendo links dos relatos com os conceitos de gestão de projetos. Como a justificativa de projeto e lógica de intervenção. O que você nos contou até aqui Victória, a gente entendeu que tem alguns projetos dentro do programa carbono neutro. Vocês têm clareza internamente dos limites de cada projeto de como eles caminham? Paralelamente eles convergem para entregar todo o programa?
Victória
Então a gente tem, digamos assim, várias modalidades dentro do programa carbono neutro. Então isso que a gente tem em alguns projetos. Então a gente oferece plantio de árvores para alguns clientes que desejam realizar a neutralização das suas emissões de carbono. Então sejam emissões de pessoas físicas, como eu comentei no começo ou emissões corporativas de operações dessas empresas ou talvez emissões relacionadas a produção de algum produto de um evento, que é uma coisa mais pontual. E além disso a gente também oferece a opção dos nossos clientes realizarem o apoio aos plantios, mas sem atrelar a neutralização de emissões. Então a gente oferece a segunda modalidade, que seria a modalidade de doação. Então nesse caso os clientes não estão neutralizando e fazendo o trabalho de compensar as emissões que eles geram, mas sim apoiando o programa carbono neutro com a doação que é convertida em números de arvores.
O que acontece, a gente tem clareza sim, dos limites internos desses projetos, destas modalidades. E a gente acredita que isso nos ajuda com o crescimento do programa carbono neutro e no maior alcance dos seus objetivos. No entanto a gente acredita que com essas duas modalidades dentro do programa carbono neutro, isso gera um pequeno desafio para gente na forma como a gente vai comunicar essas duas modalidades. Então às vezes a gente não consegue harmonizar direito a comunicação entre os clientes, dado que existem essas duas categorias. As vezes tem uma necessidade muito grande de customizar de acordo com o que o cliente está demandando. Então às vezes é doação, às vezes a neutralização, isso gera um pequeno desafio dentro do programa carbono neutro. Mas internamente a gente entende essa dificuldade e essas diferenças e às vezes o maior desafio seria como comunicar isso através dos nossos clientes e através do próprio programa.
Márcio
Você comentou antes da gente começar a produzir o podcast que o programa eventualmente tem dificuldades de atender todos os projetos de carboneutralização que procuram o Idesam, porque isso colocaria em risco os princípios, os valores e missão do programa. Qual que é a sua intepretação para que isso aconteça? Você consegue descrever quais que são estas dificuldades?
Victória
Então Márcio, o aumento, a gente comentou que existe uma tendência muito grande, e hoje em dia a gente vê ainda mais essa tendência de carboneutralização crescendo. Então a gente tem tido muita procura pelo programa carbono neutro, mas nem sempre a gente consegue atender as expectativas dessas procuras, as expectativas que vem junto com essa procura que está crescendo atualmente. Eu diria principalmente por dois motivos, a gente tem uma capacidade limitada nos lugares onde a gente atua para plantio e pela própria atividade que a gente promove com o programa. Então hoje a gente recebe, por exemplo, muitas solicitações de clientes bem grandes que precisam realizar o plantio com volume muito alto de arvores, em uma capacidade além do que a gente possui.
Eles procuram o programa carbono neutro do Idesam, esperando encontrar mais ou menos o carbono enquanto, eu diria, uma commodity ou podemos dizer até uma mercadoria, enquanto crédito de carbono, mas o nosso plantio, nosso projeto ele atende um conjunto de atividades que vai além do só o plantio de árvore, então a gente planta árvores em sistemas agroflorestais dentro de propriedades familiares rurais. Então pequenos produtores que a gente tem relacionamentos que são nossos parceiros no interior do Amazonas, eles recebem este plantio, que são árvores plantadas em sistemas agroflorestais. E nesse sistema a gente se preocupa em combinar espécies nativas com espécie também nativas, mas que possuem assim um grande valor econômico e podem trazer um retorno econômico para as propriedades, para as famílias que recebem este plantio, estas árvores podem trazer tanto um retorno, e podem melhorar alimentação dessas famílias que recebem, porque diversificam a alimentação delas ou elas podem realizar as vendas dos produtos que vêm da agroflorestal. Então o PCN o programa carbono neutro ele só acontece dessa forma.
Por conta desses cobenefício que eu contei para você que vem junto com o plantio de árvores que a gente oferece para os nossos clientes, o nosso valor pela mercadoria árvore entre aspas, ele fica automaticamente não competitivo com outros projetos que realizam a venda de árvores, a compensação ou próprio crédito de carbono. Então nosso projeto tem muitos cobenefícios e por isso a gente não consegue atender muitas vezes clientes que vem com essa procura, essas demandas que acabam fugindo um pouco, por exemplo, demanda só pelo plantio de árvores, pelo valor mais barato pelo plantio de árvores, isso acaba surgindo, a gente não realiza, a gente não atende essa demanda, porque isso fugiria aos nossos princípios e da nossa missão, então de novo quando a gente começou o programa carbono neutro há 10 anos o intuito sempre foi, inclusive desde a criação do Idesam, sempre foi realizar a conservação Florestal trazendo desenvolvimento econômico local também. Então para a gente continuar o carbono neutro a gente precisa trazer esse desenvolvimento local, plantar em agrofloresta para que isso tudo seja um pacote para Amazônia. Então tanto para a Amazônia enquanto floresta, tanto quanto para a Amazônia enquanto local enquanto pessoas que moram na Amazônia economia local. Nesse sentido que às vezes a gente não consegue atender as demandas crescentes que vem aparecendo.
Márcio
Fico pensando assim, essa quantidade tão grande de dimensões que você vai falando que tem impacto na alimentação local e uma série de questões deve ser desafiador tanto a comunicação quanto o monitoramento. Vocês adotam que tipo de medição e monitoramento de impacto e de risco nos projetos? Como vocês fazem esses desenhos para acompanhar e analisar o trabalho que é desenvolvido?
Victória
Então um ponto super positivo que a gente tem, é que a gente tem equipes em locais em que a gente planta as árvores no carbono neutro Então a gente tem pessoas em campo que são do time do Idesam que estão responsáveis ali para fazer esse monitoramento periódico das áreas. Então a gente tem monitoramento que acontece durante várias vezes por ano, ele é periódico mesmo, nas áreas de atuação do PCN e a gente conta com algumas visitas técnicas que são um pouco mais pontuais para avaliar as áreas de plantio. Então a gente tem uma equipe local que visita, conversa com as famílias que receberam o plantio, checam também a saúde dos sistemas agroflorestais que a gente tem, é e como que essas famílias e o plantio está sendo impactado. E com relação ao risco, a gente aplica algumas técnicas relacionadas ao manejo Florestal, então é uma parte bem mais técnica de Florestal engenheiro florestal e manejo Florestal mesmo. Para entender como que as áreas de plantio estão se desenvolvendo. Então a gente faz, por exemplo, inventários anuais, então a gente olha como é que aquele sistema agroflorestal está se desenvolvendo, qual que é a taxa de mortalidade das árvores, se a gente precisa enriquecer aquele local que já foi plantado. Então a gente faz inventário anuais. E sobre o desenho que você perguntou de acompanhamento e monitoramento destes plantios, o que a gente tem um plano de trabalho que a gente faz todo o início do ano e um cronograma que traz todas as atividades relacionadas ao programa carbono neutro e como a gente pretende acompanhar anualmente. Claro que de ano para ano a gente acaba mudando esse plano de trabalho melhorando alguma coisa aqui e ali, e com crescimento do programa carbono neutro a gente já está prevendo uma série de novas atividades para o ano que vem.
Victória
Victória me conta uma coisa para a gente terminar nossa conversa a gente sempre costuma fazer um momento aqui na jornada PQPS! Nos podcasts em que a gente levanta a “bola” para vocês. Se alguém da nossa audiência pudesse te responder agora. Qual que é aquele desafio do seu trabalho que gostaria mesmo que alguém te apoiasse em uma descoberta sobre ele?
Victória
Essa é difícil. Eu acho que o que eu perguntaria seria: Como que você, pessoa que está nos escutando, o que eu faria para expandir as atividades do programa carbono neutro com todas essas atividades e com benefícios da floresta que a gente trouxe eu contei para você mantendo a missão de conservar a Floresta Amazônica e fomentar o desenvolvimento sustentável Como comentei Então como que a gente faria para expandir o programa carbono neutro e ao mesmo tempo atender esse mercado crescente pela neutralização de carbono, mas sem abrir mão das atividades e de tudo que o programa promove.
Márcio
Victória “brigadão” por ter trazido esse material todo, essa vivencia tão rica e por compartilhar com todo mundo da jornada PQPS! O registro do seu trabalho, do Idesam no campos socioambiental brasileiro de 2020 neste momento tão crítico do meio ambiente no Brasil.
Victória
Foi ótimo, foi um prazer estar aqui. Foi muito bom estou ansiosa pela jornada PQPS! E muito obrigada pela oportunidade de falar com vocês.
Valeu É isso aí, gente. A conversa fica por aqui e a jornada PQPS, Perguntas e Questionamentos sobre Projetos Socioambientais continua nos nossos outros podcasts deste ciclo. Logo mais tem mais. Até!
Você ouviu PQPS perguntas e questionamentos sobre projetos socioambientais, uma conversa aberta com quem trabalha com projetos no tempo de desenvolvimento socioambiental parceiros operacionais Aupa e Ponte a Ponte. Apoio financeiro Instituto de cidadania Empresarial. Realização Rede Tekoha acesse mais conteúdos sobre as jornadas PQPS em www.aupa.com.br/pqps
Transcrito por Cristina Cordeiro.