Há alguns anos, o campo corporativo, especialmente os negócios digitais, vem discutindo a importância dos profissionais que fazem a gestão de produtos. A gestão de produtos passou a ser entendida como um campo próprio, com seus conceitos, boas práticas e experiências para serem compartilhadas com todo o mercado.
Neste texto, vamos traçar um paralelo entre os conceitos e soluções de gestão de produtos e as práticas que podem resolver os desafios que projetos de ESG e projetos de impacto têm.
O que é gestão de produtos
A gestão de produtos é uma área multidisciplinar, liderada por um(a) profissional geralmente chamado(a) de Product Manager (PM) ou gerente de produto, que tem por objetivo conectar harmonicamente as necessidades de clientes com soluções ofertadas por empresas.
O gerente do produto deve empenhar toda sua energia para ouvir, compreender e traduzir as vontades e dores dos clientes em produtos ou soluções que atendam às necessidades.
Além disso, essa área também outras três responsabilidades:
- Compreender qual é a maneira mais eficiente para viabilizar o produto;
- Entregar valor ao mercado;
- Ser sustentável no longo prazo.
Geralmente, essas frentes são compostas por profissionais como engenheiros de produto ou de softwares, designers, analistas de testes e profissionais de marketing de produto, que lidam com o posicionamento, a precificação e outros aspectos da sua presença no mercado.
Visão do Produto
A Gestão de Produto é uma atividade bastante estratégica, e o gestor responsável é uma espécie de guardião que detém o que é chamado de “visão do produto”. A visão do produto deve estar alinhada à estratégia do negócio, ou seja, a existência dos produtos deve colaborar com a viabilidade da estratégia da empresa. Os produtos, portanto, servem para levar a empresa onde ela quer chegar: no futuro que ela quer construir.
Pilares da gestão de Produtos
A gestão de produtos se baseia em três aspectos:
- Design;
- Tecnologia;
- Negócio.
Quando se discute o design dentro desta área, a compreensão de que deve se manter o usuário no centro da reflexão, com foco em suas dores, necessidades e experiências, deve ser um mantra.
Já no que se refere à tecnologia, o objetivo é entender como deve ser desenvolvida a solução dos problemas. Cabe aqui ressaltar que, quando se consulta a bibliografia de gestão de projetos, muitas vezes elas são focadas no campo dos produtos digitais. No entanto, o mesmo raciocínio pode ser aplicado ao desenvolvimento de qualquer outro produto.
Ao trazer o foco para os negócios, os gestores de produtos têm como objetivo central entender qual é a opção que viabiliza o produto no mercado, garantindo sua vantagem competitiva e buscando estratégias de monetização e presença.
A correlação com práticas do campo de impacto
Para quem trabalha no campo de projetos de ESG e de projetos de impactos socioambientais não é difícil compreender qual a relação que estamos tentando estabelecer aqui entre gestão de produtos e projetos e os problemas relacionados às questões sociais e as questões ambientais.
Se entendermos este tripé como um Diagrama de Venn, a intersecção entre cada um dos aspectos da gestão de produtos é exatamente a solução de um problema, ou seja, a entrega do produto em si.
1 Desenho da experiência
No campo de impacto socioambiental, a discussão sobre perceber com profundidade quais são as reais necessidades do público-alvo de um projeto já existe há algum tempo. Em 2010, Tim Brown, fundador da IDEO, já havia publicado textos, ensaios e posts falando sobre como usar o Design Thinking pode impulsionar a inovação social.
Neste link da organização Social Good Brasil, de 2014, é possível ver em um storyboard como organizações de impacto socioambiental e de práticas de ESG utilizam os preceitos de Design Thinking para encontrar soluções para problemas sociais e ambientais.
A própria gigante internacional do Design Thinking IDEO tem um site dedicado exclusivamente para organizações de impacto socioambiental e projetos de ESG, disponibilizando materiais, informações e outros conteúdos muito ricos para apoiar iniciativas de inovação social.
2 A solução viável
Entender com profundidade qual é a solução mais plausível para realmente resolver os problemas das pessoas é uma das principais discussões feitas, exaustivamente, por profissionais do campo de impacto socioambiental. Há muitos anos, eles já trabalham com o conceito de tecnologia social.
Quando uma prática se consolida para um determinado público ou região de forma bem sucedida e resolve um problema, ela pode ser considerada uma tecnologia social. O conceito formal do termo é: “Todo o produto, método, processo ou técnica criado para solucionar algum tipo de problema social, atendendo quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado” (Superintendência da Educação Profissional e Tecnológica do Governo do Estado da Bahia).
A Fundação Banco do Brasil promoveu entre 2001 e 2015 um prêmio que reconheceu as mais bem sucedidas tecnologias sociais do Brasil. Clicando aqui é possível buscar e encontrar as diversas tecnologias sociais mapeadas pela instituição.
3 Viabilidade econômica
Pensar sobre a viabilidade dos projetos ESG e de impacto socioambiental do ponto de vista financeiro também é uma discussão que já acontece corriqueiramente nestes campos. E é justamente aqui que é importante fazer um reforço sobre o que as iniciativas de ESG e impacto socioambiental podem aprender com as práticas de gestão de produtos.
Aprendizados para o campo de impacto com a gestão de produtos
Mesmo sabendo que gestão de produtos e gestão de projetos são campos distintos de estudo, ambos discorrem sobre a importância dos seus tripés precisarem ter equilíbrio para serem saudáveis. Neles, os gerentes de produtos, sejam eles do campo comercial ou de desenvolvimento digital, têm o foco no negócio e a obsessão por manter a vantagem competitiva e monetização dos produtos que estão desenvolvendo.
Essa mesma obsessão poderia também ser aplicada no campo de impacto socioambiental e projetos ESG. Hoje, nessas áreas, o foco muitas vezes é voltado para a compreensão sobre qual o problema e o pensamento em soluções para amenizar a dor dos beneficiários ou público-alvo dos projetos e iniciativas.
Consistência acima da intensidade
Há uma frase que gestores de produtos costumam dizer: “Gerir produto é sobre consistência acima da intensidade”.
Gerentes de produtos são responsáveis por garantir que constantemente seus produtos evoluam conforme as oportunidades, necessidades e a interação com os clientes aconteçam.
No campo de impacto socioambiental e projetos de ESG, usualmente desenhamos a solução que vamos implementar no início do processo, nos esquecendo de que o resultado final pode ou deveria ser mais mutável, já que problemas sociais e ambientais também estão sempre em movimento em transformação.
Muito provavelmente é mais fácil para um produto encontrar o seu próprio market fit do que um problema social e ambiental ser extinguido por completo. Por isso, a frase tão dita por gestores de produtos pode ser importada para estes campos, e aqui deixamos a sugestão:
“Resolver problemas socioambientais é sobre consistência acima da intensidade”.
E agora?
Quer falar mais sobre isso? Tem opiniões? Percepções, incômodos?