Neste post, convidamos você a conferir o conteúdo do quinto episódio da Websérie sobre Gestão de Projetos promovida pelo Instituto de Socioeconomia Solidária (Ises) em parceria com a Rede Tekoha. Neste vídeo falamos sobre como usar a Árvore de Soluções para ajudar a desenhar a Teoria de Mudança do seu projeto.
Justificativa do projeto
A justificativa do projeto começa quando estamos realizando o diagnóstico no território, identificando as necessidades da comunidade e definindo de que forma iremos ajudá-la a resolver seus problemas.
No PMD, trabalhamos o gerenciamento da justificativa como sendo mais uma disciplina de gerenciamento do projeto. Como todas as outras, ocorre de forma transversal à todas as outras e deve ser gerenciada durante todas elas.
Aqui, vamos nos concentrar na justificativa e na forma como definimos o por quê que nosso projeto deve existir. Projetos sociais são criados para atender alguma necessidade da comunidade, resolver um problema, gerar uma mudança social, criar um impacto de longo prazo e fazer a diferença na vida das pessoas.
Com entrevistas, entendemos as dificuldades sentidas pelo público-alvo, observar a realidade no público nos ajuda a entender as necessidades expressadas. Há também necessidades que podemos classificar como normativas, que são aquelas definidas em leis, em normas ou definidas como padrões parâmetros aceitos por órgãos específicos e especializados em uma determinada área ou também definidos por conceitos teóricos. Há outras necessidades que percebemos ao compararmos a realidade que está sendo analisada com outras realidades parecidas.
E é por isso que é tão importante se concentrar em o que e de que forma tudo isso será feito, ou seja, definir qual será o objetivo central do projeto, o impacto que queremos gerar e qual será a intervenção feita para alcançar esse objetivo e esse impacto esperado.
Para isso, usamos duas ferramentas bastante conhecidas no setor social: Árvore de Problemas e Árvore de Soluções.
Árvore de Problemas
A Árvore de Problemas é uma ferramenta muito útil para entender qual é o problema central a ser resolvido, quais suas causas e quais suas consequências. O problema central é o tronco da árvore, a causa são as raízes e a consequência os galhos.
Para desenhar a Árvore de Problemas, é necessário primeiro identificar o problema central. Por exemplo, vamos imaginar uma comunidade onde o problema central é a existência de poucas oportunidades de geração de renda. Este problema central será o tronco da árvore.
Para concluirmos que este é o problema central você já terá feito coleta de dados na comunidade, talvez já tenha até mesmo feito entrevistas, conversado com informantes chave na comunidade ou ter feito observação direta. Existem várias técnicas de coleta de dados, o mais importante é garantir que estamos de um problema real da comunidade e que temos informações para compreendê-lo de forma profunda.
A partir deste problema central, vamos identificar as suas causas. No nosso exemplo, a existência de poucas oportunidades de onde os moradores podem tirar alguma renda tem como alguma de suas causas a existência de poucos negócios na comunidade. A falta de negócios na comunidade, por sua vez, se dá porque a população não conhece seu potencial e também porque ali há baixa capacidade empreendedora.
As causas podem ser desmembradas em outras causas, sempre que nos perguntamos o porquê delas, assim a gente consegue aprofundar a compreensão do problema que estamos tentando resolver, e rumar para uma solução mais efetiva.
Depois de pensar nas causas, pensamos na solução desses problemas. A pergunta a ser feita agora é: o acontece em decorrência desse problema? As consequências vão compondo a copa da árvore de problemas, no nosso exemplo, porque há poucas oportunidades de geração de renda na comunidade, a população tem poucos recursos e a comunidade como um todo tem baixa renda. Assim, vamos construindo a árvore de problemas, identificando as causas e as consequências daquele problema.
No nosso exemplo a árvore ficou assim: o problema central é a existência de poucas oportunidades de geração de renda. Como causa, temos a existência de poucos negócios na comunidade e também a baixa formação das pessoas. E desmembrando essas causas temos que a baixa formação se dá pela escolaridade e também pela baixa formação técnica delas. Por outro lado, a existência de poucos negócios pode ser desmembrada em baixa capacidade empreendedora, comunidade não conhecer seus potenciais e suas vocações econômicas e os potenciais existentes não são explorados. As consequências geradas por esse problema central são a comunidade com baixa renda e a migração para outras localidades.
Pronto! Já temos nossa árvore de problemas montada. É claro que esse é um exemplo didático e bastante simplificado. Provavelmente as árvores de problemas nos seus projetos serão maiores e muito mais complexas.
Feita a árvore de problemas podemos partir para outra ferramenta que é bastante simples e ao mesmo tempo muito útil: a Árvore de Soluções.
Árvore de Soluções
Seguindo a mesma lógica da Árvore de Problemas, no tronco da árvore de soluções a gente vai posicionar o objetivo central, nas suas raízes os meios para alcançar o objetivo, as intervenções pelas quais a gente vai de fato chegar nesse objetivo. E nos galhos vamos mostrar quais os efeitos, os impactos que serão gerados ao alcançar o objetivo esperado.
E como transformar a Árvore de Problemas em Árvore de Soluções? É simples. A gente positiva a Árvore de Problemas espelhando em uma nova árvore, a de Soluções. Fazendo esse espelhamento, a gente transforma os elementos da Árvore de Problemas em sentenças positivas, assim, o problema central se torna o objetivo central, as causas se transformam nas intervenções a serem realizadas, e as consequências no impacto.
Vejamos como fica nosso exemplo:
Se na Árvore de Problemas a gente tinha como problema central as “poucas oportunidades de geração de renda na comunidade”, na Árvore de Soluções vamos ler “as várias oportunidades de geração de renda na comunidade”. Se na Árvore de Problemas a gente tinha como causa das poucas oportunidades “a inexistência suficiente de negócios na comunidade”, na Árvore de Soluções a gente vai ter o meio pra alcançar esse objetivo, que vai ser “criação e existência de diversas oportunidades de negócios na comunidade”. E por fim, na Árvore de Problemas tínhamos como consequência dessa linha lógica toda a comunidade com baixa renda, na Árvore de Soluções teremos como uma realidade almejada uma comunidade gerando renda.
Ao terminar o exercício de positivar toda a Árvore de Problemas, teremos no lugar de “baixa escolaridade” e “baixo conhecimento técnico”, teremos “pessoas da comunidade capacitadas”. Se na Árvore de Problemas tinhamos a existência de poucos negócios na comunidade, causada pela baixa capacidade empreendedora das pessoas e do desconhecimento da comunidade sobre seus potenciais, na Árvore de Soluções teremos o aumento da capacidade empreendedora de cada um e uma comunidade que conhece seus potenciais. As pessoas na comunidade formadas e a existência de diversos na comunidade, de maneira combinada, vai fazer com que haja várias oportunidades de geração de renda no bairro. E por fim, isso fará com que a comunidade gere renda, que é justamente o espelhamento da positivação da consequência que tinhamos identificado na Árvore de Problemas, que era ter a comunidade com baixa renda, em consequência de haver poucas oportunidades de geração de renda.
Ao terminar todo esse processo, temos então a nossa Árvore de Soluções, e é a partir dela que vamos definir o que vamos fazer em nosso projeto. É a partir dela que definimos a nossa intervenção.
A rota de intervenção é a escolha de quais ações faremos para alcançar o objetivo, provavelmente mapeamos causas e efeitos que podem estar além da nossa capacidade de trabalho, ou que não fazem parte do escopo da nossa organização, ou também podemos ter listado causas que já estão sendo trabalhadas por outros parceiros ou outros projetos dentro do nosso programa. Ou aquelas causas que simplesmente não temos como abordar nesse momento, por falta de recurso, por falta de tempo ou pela urgência do processo.
Assim, é a partir da Árvore de Soluções, e com todas essas questões em mente, que vamos definir a intervenção. Em nosso exemplo, vamos atuar tanto na formação técnica da comunidade como na capacidade empreendedora, no apoio à comunidade para que conheça seus potenciais. Mas não vamos abordar, por exemplo, a questão da escolaridade. Também nos interessará como impacto o aumento da renda e da riqueza na comunidade, mas não temos foco em atuar na migração das pessoas para fora da comunidade, mesmo que isso talvez diminua, não iremos acompanhar esse possível efeito.
Todo esse processo, desde a definição do problema central até a escolha da intervenção do projeto serve para desenharmos a nossa EAP e também o marco lógico, que representa a lógica de atuação do projeto e que será utilizado ao longo de todo o projeto para garantir que nosso escopo seja entregue.
Identificando com clareza quais são as necessidades, os problemas vivenciados pelo público alvo, conseguindo desenhar qual é o objetivo que a gente quer chegar e como a gente vai chegar nele, a gente consegue também ter mais clareza na nossa teoria de mudança do projeto.
O Gerenciamento da Justificativa é um dos temas mais complexos de gestão de projetos, esperamos que esse conteúdo tenha sido útil para vocês.
Guia sobre Teoria de Mudança
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Fiquem ligados nos próximos posts em que vamos trazer novos temas sobre gestão de projetos!